Domingo, 01 de Janeiro de 2012

Continuar ou recomeçar?

Parece óbvio que é continuar, não?

No fundo é apenas uma convenção social essa ideia de recomeço do ano civil. Mas nós que precisamos de metas que simbolizem mudanças e marcos, gostamos desta ideia: da possibilidade de recomeçar e da suposta magia deste reinicio cíclico do calendário que permite a alteração de um número e, nesse exercício, criar novas possibilidades.

Porque como refere sabiamente o Pe. Alberto Brito- no livro "Viver, Orar, Falar" - recorrentemente citado pela Laurinda Alves:

 

"Ninguém evolui em linha recta(...)"

 

Esta afirmação faz todo o sentido porque, já  se sabe: O mundo, os acontecimentos e a nossa vida são, regra geral, curvos, em queda, ou ascensão...
E se, nesse "jogo"  vital, é imperioso ainda manter a evolução e o continuo aperfeiçoamento... Tarefa que, todos sentimos, consome praticamente todo o nosso tempo de vida... E se ainda é suposto continuar a resistir (mal?) aos testes contínuos a que estamos sujeitos...

Tudo somado, isto seria tarefa para Hércules e, portanto, difícil  fazer a direito.... :)

Por tudo o que fica dito e pela exigência  que devemos aplicar em primeiro lugar à nossa própria conduta, aproveitar estes reinícios, ainda que artificialmente construídos, é uma forma de, conta-quilómetros a zeros, limpar a tralha que nos habita e pesa, e retomar (uma e outra vez) a demanda.

Bom e pacífico Ano Novo para todos.

De coração,

Marta M



publicado por Marta M às 16:31
Quinta-feira, 16 de Junho de 2011

(Imagem deste blog, cuja leitura recomendo)

Sim, amigos.

Mais perspectivas. Porquê?

Porque parece que existem alturas em que determinas direcções nos chamam e fazem mais sentido ou se impõem naturalmente pelas solicitações da vida ou porque quem nos rodeia parece estar a precisar de determinadas palavras e elas vêem ter connosco como se fôssemos canais...

Em finais de ano lectivo volta sempre esta sensação de urgência que me invade, esta sensação de que me estou a esquecer de algo...

De que resta algum aluno a quem ainda devo uma palavra, um gesto, um conselho certeiro (?)...

Este ano parece que a palavra que se impõe é a perspectiva - aquela cuja abertura  nos permite colocar no lugar do outro e, com esse exercício, arejar, limpar o ar das relações e permitir que a comunicação se faça de forma mais fluida.

E que todos sejam beneficiados.

Tenho lido muito sobre este tema e procurado as razões e a argumentação que me permitam sustentar os conselhos que os meus jovens alunos precisam. Por isso gosto de histórias e parábolas.

Encontrei esta, numa das minha autoras favoritas e no livro que agora estou a ler:

"Conhece aquela lenda indiana dos quatro cegos (...) que encontraram um elefante? Um foi de encontro à barriga do elefante e disse: Esta aqui um muro!.

Outro chocou com a perna e observou: Encontrei uma árvore!. O terceiro cego tocou na tromba do elefante e comentou: Está aqui uma mangueira!.

O quarto sentiu a cauda e exclamou: Encontrei uma corda!

Os quatro juntos poderiam chegar à conclusão que tinham encontrado um elefante . Mas para isso teriam que admitir que há outros pontos de vista.

Se cada um se  mantém no seu modo de ver e não admite outro, torna-se mais cego.

Quanto mais cada um se fixa na sua maneira de ver, menos vê"

Ouvir, Falar, Amar - Laurinda Alves 2011

 

E é assim mesmo, juntos vemos e vamos mais longe, porque cada um pode dar o seu contributo para o todo final.

Mesmo quando alguém pensa diferente de nós e nos desinstala das nossas certezas, obrigam-nos no exercício de negação a ir mais longe na justificação e fundamentação das nossas das razões.

Todos saem a ganhar e a ver com maior amplitude e, portanto, tudo ponderado, a ver mais claro e longe...  :)



publicado por Marta M às 15:54
Sexta-feira, 10 de Junho de 2011

Uma mesma realidade permite sempre diferentes leituras, não é? Todas as situações, por pior que se apresentem, pois têm sempre mais do que um lado...

Sim, todos sabemos.

Mas existem testemunhos, histórias de vida que o demonstram mais do que linhas e mais linhas de prosa positiva e pedagógica...

Assim é este testemunho que chegou a mim. Um entre tantos que me ajudam a ver cada dia mais longe...

O Mário é um colega meu da escola que esteve na Guiné, como muitos homens deste país a lutar (?) pela pátria em nome de um governo ditatorial em circunstâncias que todos nós conhecemos relativas à Guerra Colonial.

Mas não é dele que pretendo falar, embora ele seja alguém muito sensível e de uma simpatia contagiante, apesar das evidentes sequelas de guerra que carrega.

Foi de uma história que partilhou comigo e com a nossa turma do 6º ano, a propósito de perspectivas, na aula de Área Projecto, onde leccionamos em par pedagógico.

Conta o Mário que um amigo seu, o Sérgio, também deslocado em tempos para a Guiné, soube que um amigo de infância de ambos tivera um acidente em combate ao  pisar uma mina terrestre.

Evacuado para Lisboa em estado crítico, lutou pela vida de forma extraordinária, não sem pagar o preço extremo de perder as duas mãos, parte de um braço, as duas pernas e, ter tantos estilhaços no rosto que, em pouco tempo, o cegaram e lhe limitaram a audição.

Sim amigos, tudo isso...

O Sérgio, por morar em Lisboa, deslocou-se ao hospital militar para visitá-lo.

Na recepção, ao perguntar pelo seu amigo Manuel, é chamado à parte e advertido sobre a situação clínica do seu amigo (levou apenas meses a morrer) e sobre o seu estado físico.

Munido de coragem, segue o enfermeiro que o leva por entre aquelas camaratas repletas de jovens feridos numa luta escolhida e determinada por outros... Ao fundo vê o Manuel, ou o que restava do jovem seu amigo.

 Encontra-o com um olho vendado e outro fechado por uma cicatriz extensa e disforme. Paralisado, dependente e encostado sobre uma série de almofadas e apoios, não se podendo mover sob nenhum aspecto.

O Manuel, alienado e dorido, não se percebe da chegada do amigo e, somente quando este o toca e o chama pelo nome, retoma a vida - reconhecendo-o de imediato e, cheio de alegria, o saúda:

- "Sérgio, oh Sérgio! Aí pá foi uma sorte! Uma Sorte! - Morreram todos e eu safei-me.

Uma sorte, pá!"

 

NOTA: Não é preciso dizer mais nada, pois não amigos? Os nossos alunos ficaram em silêncio por algum tempo...



publicado por Marta M às 17:38
Vejo o mundo, somo o que me acontece, vejo os outros, as minhas circunstâncias....Escolho caminhos e vou tentando ver o "lugar" dos outros
Afinal quem penso que sou..
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As imagens que ilustram alguns posts resultam de pesquisas no google, se existir algum direito sobre elas, por favor,faça-me saber. Obrigada.
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