Mesmo mais reflexiva e silenciosa, não recuso a minha voz quando a injustiça me cerca...
Estarei amanhã em Lisboa a mostrar, a reforçar o meu desagrado e a exigir que a austeridade necessária seja também mais humana e gradual.
Porque "Vemos, ouvimos e lemos - não podemos ignorar (Sophia de Mello Breyner)", porque a vida sempre flui e estamos sempre a tempo de a recomeçar...
Porque temos bons e óptimos amigos que partilham vídeos inspiradores quando mais eles nos fazem falta...
Pelo que ficou dito e por todo o potencial mudança que sempre existe à nossa frente, vou à luta e deixo aqui este vídeo que veio por mão amiga e que já hoje me fez voltar sorrir...
E continuar a acreditar.
Sentada, com a senha na mão, aguardo.
O número é alto, a sala é ampla, abafada, e está repleta.
E ninguém brinca, ou atrevo-me: sequer sorri.
Como eu, centenas vêm fazer hoje a sua inscrição neste Centro de Emprego.
Todos acusam na expressão a dificuldade e o peso da circunstância.
Mesmo tendo por mais ou menos certo que o meu caso não é dos que têm piores perspectivas (Setembro corre novo concurso), pois partilho com estas pessoas o estigma da sala e da condição...
Olhando em volta, livro pousado, medito.
Inacreditavelmente, ocorrem-me que, talvez ainda ninguém ali se deu conta que, afinal, até temos alguma sorte.
Sorte?! Sim, sorte.
Sorte por vivermos neste país, apesar de tudo, civilizado e, à falta de outras qualidades, solidário.
Sorte de que, antes de mim (de nós), muitos terem tido a coragem de ter lutado, de não terem desistido mesmo quando pareceu difícil (impossível?).
E agradeci a todos eles.
Especialmente a todos os que há anos ajudaram a fundar e a construir o nosso Estado Social. E depois, a todos aqueles que, a custos que a nossa passividade actual parece não entender, e incluíram a tortura e a prisão, lutaram, às vezes muito sós, pela melhoria e segurança das nossas condições de trabalho.
Por eles tenho férias, direitos, alguma segurança laboral e subsídio de desemprego que não me deixa desamparada em momentos como este.
E exactamente por reconhecer o valor desta herança que tento estar à altura da passagem do testemunho - E Luto.
E não desisto: protesto, escrevo, faço greves e manifestações, participo de forma construtiva na vida do meu país.
"É pouco", dirão alguns, "eles é que mandam" - dirão outros...
A todos respondo que só consigo fazer a minha parte e espero o mesmo de todos.
Estes senhores que nos governam não tomaram o poder, foram eleitos e, portanto, colocados a governar por nós.
E a situação é sempre, sempre, a prazo.
O certo é que não me derrotaram, e sei a responsabilidade que está sobre a minha geração: Lutar para o legado que fica não seja muito inferior ao que recebi.
É possível. Países com menos recursos o fazem todos os dias e conseguem, com alguns ajustes, viver com alguma qualidade.
As gerações futuras contam connosco, tal como nós contámos com a anterior.
Não fujo às minhas responsabilidades.
Este é o nosso turno.
Lembram-se deste post?
Pois amigos, a situação agudiza-se e as últimas propostas do Ministério da Educação ainda precarizam mais esta profissão a que tanto me dedico.
Com o argumento duvidoso de que as escolas possam escolher os seus professores contratados de forma directa, sem respeito pela sua graduação profissional adquirida a pulso ao longo de anos (no meu caso, mais de 10 - mas há quem esteja há quase 15...), tudo querem resumir a uma entrevista (?) sem critérios objectivos ou muito claros...
Como se o desempenho de um professor se pudesse avaliar em meia hora de conversa...
Por simpatia? Por pedido/cunha? Por intuição? Gostaria de perceber.
Num país onde os empregos escasseiam, dar este poder pessoal e discricionário em relação a um emprego público a um único elemento da escola, pois é no mínimo, perigoso...
E tentador nos tempos de desemprego que correm.
A nossa Constituição da República é muito clara em relação a isso e já lhe fiz referência no post referido no início.
Pelas razões expostas e porque, apesar da experiência acumulada que me diz que tudo tem o seu tempo, não consigo cruzar os braços e simplesmente criticar na internet ou via postal... Ou na sala de professores, ou no Café.
Por isso, arregaço as mangas e participo - ajudo à mudança.
Dessa forma, coerente, participo nas manifestações e protestos que me parecem justos. Foi o caso desta Vigília de 24h em Lisboa.
Para além do protesto, foi importante dar um rosto (no caso também o meu) aos milhares de professores que, como eu, servem o sistema há anos, e que são dispensados em 31 de Agosto e recrutados sucessivamente no início de Setembro.
Neste novo regime proposto, até esta precariedade e prioridade expectável, nos é negada.
Passei então a noite ao relento, pela primeira vez na minha vida - uma noite longa e fria do mês de Fevereiro, em Lisboa.
Foi uma experiência para a vida amigos, acreditem.
Sentada e tapada, não dormi mais do que 10 minutos e observei muito...
Pude sentir na pele o que será viver na rua a olhar para os prédios que nos rodeiam e a desejar entrar e desfrutar daquele quentinho e daquela luminosidade que chama tanto a nossa atenção...
E foi só uma noite...
Estiveram sempre por ali, dois sem-abrigo, a olhar para nós...
Imaginem como será viver assim?
*Nota. Gosto de alguma reserva,mas como muitos alunos e colegas viram a reportagem da Sic (Vigília) , pois ela aqui fica e assim podem conhecer-me um pouco melhor, mesmo depois de uma noite ao relento... ;)
(Imagem recebida via mail)
Realmente, se ele - o superman - já recorre a um templo para rezar...
Pois, que diremos nós, simples mortais, sem mais poderes que a nossa força de trabalho?
Que dizer da velocidade e diversidade de acontecimentos que têm assolado a Europa nos últimos dias?
Que dizer do povo (governo?) grego que ja todos davam por morto, resignado, dependente, manipulado e, surpresas das surpresas, para os senhores do mundo e para nós - ainda mexe e tem uma palavra a dizer?
Como interpretar?
Como prognosticar?
Como explicar?
Como consertar?
Numa semana impossível de trabalho, papelada e testes para corrigir, deixo este desafio para irmos pensando e somando tudo o que nos vai caindo em cima e...no que já nos avisam (ameaçam?), vem por aí.
Não há mais remédio que fazê-lo amigos...
Ou tentar, pelo menos.