
"Eu pedi amor
E Deus deu-me pessoas
Com problemas para ajudar."
Revista XIS -2006
E abre-se uma Janela.
Sempre.
Ontem escutei todas aquelas palavras ingratas que coroam esta época baixa que atravesso...
Mais uma vez constatei o que já sei, mas que me custa admitir: que nem todos os investimentos têm retorno garantido, e menos o amor que se dedica...
É cuidar, fazer e...esquecer. Entregar literalmente, portanto.
E sentia o peito apertado, as mãos fechadas, a desilusão instalada e castradora...
Mas nada é absolutamente estanque ou definitivo, a vida sempre surpreende e, sem aviso prévio, nos requisita de volta.
Assim, no dia a seguir às palavras duras e à falta de compreensão, surge a mão...
Não a mão a que se perguntou por carinho, não a mão grata, mas a mão que pede.
A mão que hoje de manhã se estendeu para mim, não foi a que tanto esperei, mas foi a mão certa, reconheço-o.
Quando a caminho do café matinal, passo lento, reflectia sobre a injustiça e procurava respostas... Surge a voz e, timidamente, pede ajuda:
- Menina...
Lá estava ela, a minha resposta, corporizada numa senhora idosa, sentada nas escadas de acesso a um prédio. Pequenina, com o pé enfaixado e a mão estendida em minha direcção.
Disponibilizei-lhe a minha e senti imediatamente o calor da sua. Segurei aquela mão calejada e endurecida pelos anos e, surpreendentemente, senti-a quente e amável.
Ajudei-a subir até ao seu andar com a muleta do outro lado.
Agradeceu-me tanto...
E no entanto eu é que devia agradecer-lhe.
Foi uma dádiva para mim ajudá-la, sentir a sua mão na minha, e a possibilidade daquela troca tão humana.
Estava mesmo a precisar de uma mão, e ela veio.
Obrigada eu, minha senhora..... :)