Sábado, 30 de Março de 2013

Amigos:

Este ano tem sido se não o mais, pelo menos um dos mais difíceis da minha vida.

Não porque o meu pai ainda leva tempo a restabelecer-se, ou porque não encontro  uma escola, ou porque a minha coluna me doeu e incomodou durante mais de dois meses, ou porque a economia obriga a exercícios orçamentais como nunca...

Não foi nada disso que me fez recolhar desta forma.

O  que se passa há quase um mês é que a minha filha querida está doente e não é algo fácil de debelar.

Surgiu-lhe do nada, num sábado à noite, uma crise aguda e persistente de Acufenos (zumbidos) no ouvido direito e, desde esse dia, nunca mais desapareceram. Dia e noite.

Confiantes que fosse passageiro, ainda tentámos tratá-los e correr um Otorrino atrás do outro à espera do milagre. Foram 3 dias sem dormir até que, se colocou a hipótese de a internar numa Clínica de sono à procura de descanso e alívio.

Não dá para explicar melhor a experiência traumatizante e as primeiras noites que se que se passaram nesta casa...

Foi o desânimo e a impotência que podem imaginar...

Nada parecia conseguir aliviá-la na primeira semana. Foram momentos  muito duros.

Entre as duas perdemos 3 ou 4kg....

Depois, como sempre acontece, a pessoa certa chegou a nós ou nós chegámos a ela, e iniciámos um abordagem multilateral ao problema (que no fundo é um sintoma, não um doença em si) e entre tratamentos farmacológicos, acupunctura e neuro-psicólogo, o som começou a baixar e a dar alguma trégua. E minha filha conseguiu voltar a dormir à noite.

Estamos assim, correndo por entre dias pesados, com melhoras lentas, mas que nos trazem esperança e luz para continuar a luta.

Há uma razão para tudo, eu sei, e  dentro de nós existe muito mais força do que inicialmente conhecemos.

Por isso, sem desistir, continuaremos a nossa luta e todos os tratamentos prescritos.

Entretanto desejo a todos uma Santa Páscoa com o carinho de sempre.

Eu e a minha filha.



publicado por Marta M às 22:11
Domingo, 17 de Fevereiro de 2013

 

Os meus vizinhos de cima, como provavelmente milhares de portugueses, perderam a sua casa.

Durante 23 anos estiveram aqui. Foi toda uma vida a senti-los  e a escutá-los aqui por cima...

Foram os filhos que criámos juntos, os aniversários, os cafés, os funerais, as partilhas grandes e pequenas quando nos encontrávamos na escada...

A conjuntura arrastou-os para uma situação em que já não conseguiram suportar financeiramente a prestação da sua casa e tiveram que a entregar ao banco. E nós, os que assistimos e confrontados com crueza dos factos, pensamos para nós: até quando aguentarei a minha?

Partiram com a dignidade e discrição possíveis e nós assistimos num silêncio cúmplice e impotente...

Na despedida, escolhemos as palavras na tentativa de minimizar a situação e torná-la mais confortável para todos. Sim, para todos, porque a todos doeu.

Eles partiram e levaram consigo um pedaço da nossa vida.

Quando  fecharam a porta e as persianas (que permanecem há duas semanas assim -em baixo) encerraram um capítulo de inúmeros sacrifícios, que sei levaram até ao limite, a tentar  manter a casa nos últimos  anos.

A casa sem móveis, sem cortinas, sem fotografias - sem eles que a tornavam viva - é a expressão desse tempo exigente e desesperançado que nos é dado viver.

Não deve estar fácil estar na pele deles...E continuar a lutar...

Devia doer também a quem tem responsabilidades pela situação de afundamento a que o país e as famílias chegaram.

Será que conhecem, de facto, o que se está a passar?

 Já o sentiram assim, na pele?

 

O silêncio que se instalou aqui por cima é insurdecedor.

E revoltante.



publicado por Marta M às 21:53
Sábado, 06 de Outubro de 2012
 

Como foi que a minha ida à Manifestação do "Terreiro do Povo" e a passagem pela Fundação Saramago se relaciona com o livro acima e com o simpático e educado casal de idosos que se cruzou comigo numa das livrarias da cidade esta semana?

Pois, porque para além desta minha veia profissional de historiadora, em que tu tudo se relaciona e interage num todo que me parece orquestrado e coerente, gosto de observar e encontrar pontos comuns...Sincronidades, numa palavra.

Em Lisboa o Autocarro estacionou muito próximo da Fundação Saramago e, pela primeira vez, consegui aproximar-me daquela Oliveira centenária onde foram depositadas as cinzas do meu querido José Saramago. Com um respeito profundo que nem o barulho nem os transeuntes conseguiram diminuir, deixem-me estar por ali...No chão a frase dele - absolutamente eloquente sobre o sentimento que a morte lhe suscitava:

"Mas não subiu aos céus, se à terra pertencia."

E fiquei a pensar para mim que, de certa forma, a eternidade também passava por ali, por aquela oliveira e pelas cinzas que agora também a alimentavam e faziam parte dela e de todos aqueles novos ramos e folhas... Saramago ressurgia da terra e se tornava vida novamente, desta vez como folha, como fruto que alimentava os pássaros que por passavam e que o levariam a outras paragens dentro dos seus estômagos.

Assim, ele que era um ateu convicto, mesmo não subindo às nuvens (nem ao ceú celestial) atingira a eternidade e retomava o ciclo da vida sob outra forma.

 Poucos dias depois, numa livraria da cidade, à procura de um livro para a minha filha, reparo neles: Um casal já muito idoso que falava entre si e remexia as prateleiras de livros com um gesto cuidado e notoriamente pouco habituado àqueles ambientes.

Não intervi (embora me apetecesse muito), mas percebi que algo importante se passava ali e fiquei por perto...

Algum tempo passado escutei o suspiro excitado e discreto: "É este, e!" - Disse ela.

Foram os dois para a caixa e, porta-moedas em punho, procuraram a nota e os trocos bem contadinhos. O livro pousado no balcão, foi embrulhado sob o olhar fervoroso e claramente entusiasmado dos dois. Pareciam ter descoberto um tesouro...

O livro em questão, um dos mais vendidos neste ano, reproduz a experiência relatada de uma criança que, em paragem cardíaca, terá visitado o Céu, contactado com Jesus e com familiares já falecidos (e desconhecidos dele) e retomado à vida com uma missão de partilha e esperança. O título é muito elucidativo da mensagem de confirmação que veicula.

Eram os dois mais idosos que Saramago à data da sua morte e, provavelmente, muito menos cépticos. Certamente procuravam um caminho, uma pista, uma confirmação das suas crenças e da suas expectativas nesta fase das suas vidas.

Pareciam, tal como Saramago com a sua oliveira, tê-la encontrado neste livro que alguém lhes recomendara.

Mostravam genuíno entusiasmo e pareciam felizes …

Ainda bem, ainda bem que, em assuntos tão profundos e que inquietam o nosso coração, nos são permitidas tantas propostas de resposta.

À medida do que somos capazes de entender...

 E aceitar.

 

 

 



publicado por Marta M às 18:40
Sábado, 02 de Junho de 2012

 

 

Já abdiquei e tive de "encaixar"  tantas coisas  que me pareciam impossíveis de acontecer na minha vida, que me pareciam tão, tão certas e...

No entanto, não foi assim.

Foi injustiça que me fizeram? Se calhar foi.

Se olho para trás e não encontro justificação para determinadas atitudes? Olho.

Se tenho a certeza de nunca ter usado métodos e palavras com as quais fui depois "tratada"? Tenho.

Mas tudo isso constatado, lágrimas choradas, coração apertado e tensão arterial descontrolada, alguém se deu conta?

Ou melhor, alguém se importou verdadeiramente? Alguém se deu conta do tamanho que teve para mim?

Não sei...

E então, fico por aqui? Não posso.

Apesar dos embates tenho sido capaz de reencontrar a paz dentro de mim. E sido capaz de refazer-me a partir da minha fé  e da minha recusa em render-me.

A partir da recusa em deixar que, algo perdido, perca também a vontade de continuar a ser eu mesma.

Recuso abdicar do sonho que aquela menina, a Marta, acalentou realizar para a si mesma assim que pudesse.

Assim que fosse senhora do seu destino.

Por ela e por todas as às vezes em que ela se "auto-consolou" e prometeu a si mesma que, um dia, viveria bem.

E em paz.

Por honrar esse tempo e esses sonhos, e mesmo que a realidade não tenha sempre colaborado, impeço que os meus valores murchem. Ou desapareçam.

Seja como for, não quero e não deixo que ditem o meu comportamento e não mudo a minha conduta porque tenho que "dar o troco na mesma moeda".

Pode ser que dê o troco, mas dou-o à minha maneira. E nesse exercício, diminuo, se necessário, o espaço que alguém pode ocupar (ou ocupava integralmente) no meu coração.

E avanço.

E não desanimo. E procuro minimizar as perdas.

Lembro-me de tudo isto hoje especialmente,  porque existem pessoas e dias difíceis

E escrevo sobre isto tudo, não porque minha realidade seja mais dura que a de outros ou mereça mais atenção, apenas é a minha, e falo dela porque me é necessário processá-la... 

E porque procuro aprender a viver com ela, aceitando-a, moldando-a, alterando-a... 

Mas sempre tentando lidar com ela honrando quem sou.



publicado por Marta M às 21:53
Sexta-feira, 18 de Maio de 2012

Sim amigos: Retoma!

É uma boa palavra para estes tempos e nós e os europeus ansiamos por ela, não é?

Retomo, a um ritmo um pouco mais lento que o habital, o cuidado do meu cantinho.

E ilustro-o com este cartaz, idealizado, pensado e nunca distribuído de facto pelo governo inglês, no sentido de levantar a moral aos súbditos de sua Majestade quando, no início da 2ª Guerra Mundial, face aos cenários negros, quando tudo faltava e os alemães (sempre eles, não?) ameaçavam destruir e dominar a Europa e o desespero grassava, se tentou conservar a esperança e a dignidade social.

Com o devido respeito e a devida proporção, procuro manter-me serena num tempo de turbulência pessoal e profissional.

De vez em quando, parece que a vida testa a nossa evolução e atira-nos ao chão a ver se, de verdade, conseguimos levantar-nos e retomar o caminho.

Neste último mês e meio a minha vida deu uma volta de 360º. E tive que adaptar-me.

O professor em pré-reforma (64 nos)  que eu estava a substituir até Agosto, teve ordens para retomar o seu lugar na escola findas que foram as autorizações para reformas antecipadas. Em 4 dias, ele que não dava aulas há anos e eu que estava completamente integrada na escola, trocámos de lugar.

Tudo em nome da sacrossanta, cega e venerada poupança orçamental...

Dizer que foi difícil, inesperado e, pedagogicamente errado, chega?

Não, não chega.

Após as primeiras ondas de choque e do choro que controlava a a custo, com o coração partido, arrumei o meu cacifo, despedi-me dos meus meninos, da minha direcção de turma e...Vim para casa.

Se pudesse considerar algo positivo desta experiência inusitada para mim, foi a possibilidade de perceber o quando custou aos meus meninos separar-se de mim...As manifestações de carinho, a festa surpresa, o abaixo-assinado dos pais e mesmo a intervenção do Director a  meu favor, foram um bálsamo que ajudou muito a manter a minha serenidade aparente...

Agradeço de coração o carinho recebido nesse momento e as mensagens que ainda agora me chegam. Muito, muito acima do que esperaria ou contava merecer.

Entretanto a minha graduação profissional ( e as 30 candidaturas que apresentei) já me permitiram - felizmente - conseguir  outro lugar numa outra escola.

Nesse momento, dedico-me intensamente a preparar outros níveis de ensino e a acolher na minha vida todos estes novos meninos.

Com calma, um passo de cada vez, respirando fundo e fazendo de forma honesta e empenhada cada uma das nossas tarefas,

sejam elas quais forem - conseguimos sempre ir em frente.

Tudo tem o seu tempo.

 



publicado por Marta M às 17:42
Quinta-feira, 05 de Abril de 2012

"Eu pedi amor

E Deus deu-me pessoas

Com problemas para ajudar."

Revista XIS -2006

E abre-se uma Janela.

Sempre.

Ontem escutei todas aquelas palavras ingratas que coroam esta época baixa que atravesso...

Mais uma vez constatei o que já sei, mas que me custa admitir: que nem todos os investimentos têm retorno garantido, e menos o amor que se dedica...

É cuidar, fazer e...esquecer. Entregar literalmente, portanto.

E sentia o peito apertado, as mãos fechadas, a desilusão instalada e castradora...

Mas nada é absolutamente estanque ou definitivo, a vida sempre surpreende e, sem aviso prévio, nos requisita de volta.

Assim, no dia a seguir às palavras duras e à falta de compreensão, surge a mão...

Não a mão a que se perguntou por carinho, não a mão grata, mas a mão que pede.

A mão que hoje de manhã se estendeu para mim, não foi a que tanto esperei, mas foi a mão certa, reconheço-o.

Quando a caminho do café matinal, passo lento, reflectia sobre a injustiça e procurava respostas... Surge a voz e,  timidamente, pede ajuda:

- Menina...

Lá estava ela, a minha resposta, corporizada numa senhora idosa, sentada nas escadas de acesso a um prédio. Pequenina, com o pé enfaixado e a mão estendida em minha direcção.

Disponibilizei-lhe a minha e senti imediatamente o calor da sua. Segurei aquela mão calejada e endurecida pelos anos e, surpreendentemente, senti-a quente e amável.

Ajudei-a subir até ao seu andar com a  muleta do outro lado.

Agradeceu-me tanto...

E no entanto eu é que devia agradecer-lhe.

Foi uma dádiva para mim ajudá-la, sentir a sua mão na minha, e a possibilidade daquela troca tão humana.

Estava mesmo a precisar de uma mão, e ela veio.

Obrigada eu, minha senhora..... :)

 



publicado por Marta M às 21:56
Segunda-feira, 12 de Março de 2012

(Em branco)

Esta tela em branco está aberta - à espera das cores que a vida a vai pintar - a espera dos resultados...

Fiz a minha parte. Aguardo.

Junto aqui este livro, A Profecia Celestina, que teve um grande impacto na minha vida e foi uma peça fundamental para a contínua construção (tentativa?) da filosofia de uma não- alinhada como eu...

Alguém que gosta de colher, de aprender, mas que tenta nunca fechar (ou ainda não chegou lá..) a amplitude da perspectiva...

Porque ando a repetir coisas para mim, no sentido de que a redundância que uso nas minhas aulas, faça eco permanente e definitivo em mim...

Deixo-as aqui também:

-Livre-se do apego a um único resultado;

- Deixe o mistério desenredar-se;
- Permaneça aberto.
 
 
 
Nota vital: Tem sido muito difícil praticar...
 


publicado por Marta M às 20:00
Segunda-feira, 20 de Fevereiro de 2012

"Não perguntes porquê,

Pergunta: Para quê?"

 

 

 

Sim, todos os dias obrigo-me a colocar esta pergunta /ordem.

Desde  que saio da cama e saúdo o dia e a luz - repito-a. 

As aprendizagens são mesmo assim, nada valem senão puderem ser testadas.

Confrontadas.

Nada de pena, nada de revolta, apenas o esforço que procura contornar e alterar a situação.

E a aceitação de que haverá, mesmo que não pareça, uma razão.

Acrescento a certeza de que esta fase exigente, no fim, me há de fortalecer e levar mais longe...

E não será esta a primeira, nem a última vez.

 

Todos os dias, mesmo que não apeteça, repito a máxima, e  obrigo-me a integrar tudo isto.

 

 

Nota: As razões, as explicações não importam expôr aqui, são as todos nós em alguma fase da nossa vida, por isso a frase fica só por si, como inspiração para quem precisar. Eu preciso.

 



publicado por Marta M às 19:15
Sexta-feira, 18 de Novembro de 2011
Tenho dormido mal nos útimos 3 dias.
Há uma imagem que invade o meu pensamento e o meu coração continuamente...
E é uma imagem triste e de fim de linha, escolhida por um jovem e que contrasta com tudo o que de bonito e promissor tem a própria juventude.
No passado fim de semana, um jovem da idade do meu filho, amigo e colega de faculdade dos dois jovens cá de casa, resolveu (?) terminar com a sua vida de forma, afirma-se (repete-se?), inesperada...
Talvez para ele não fosse assim tão inesperado, talvez já existisse um longo caminho percorrido de que quase ninguém se deu conta, ou...Ele não confiou a ninguém.
Mas o que dói profundamente é este revogar de futuro...Esta ausência de visão de caminho aos 26 anos.
Hoje, na aula de Formação Cívica, a propósito da incompreensão e da ausência de diálogo em casa e fora dela, não pude evitar falar do doloroso sofrimento emocional que, por vezes, se esconde e para o qual não se pede ajuda a tempo, enquanto tudo é ainda resgatável... Olhei cada um  com atenção e, sabedora das  difíceis circunstâncias de alguns, falei de mim e da experiência partilhada ao longo da vida por toda a humanidade, mas que para os jovens, mais inexperientes, não é tão evidente: A Impermanência de tudo.
E de como a nossa vida flui, dá voltas todos os dias continuamente, e envereda por caminhos que nem prevemos, nem sonhamos...E, portanto, nunca, em tempo algum, podemos afirmar que o caminho será sempre aquele que nos cega e atormenta hoje.
Ao cortar desta forma o futuro, ao não permitir que a vida flua, ao desistir de lutar - nunca o sofrimento poderá ser atenuado, nunca mais as circunstâncias poderão alterar-se.
O sofrimento eterniza-se...
Senti medo amigos, medo de que algum deles (ou outros jovens* em qualquer parte) possam estar a passar por trânsitos semelhantes...
E nós sem sabermos, até ao dia...


publicado por Marta M às 19:00
Vejo o mundo, somo o que me acontece, vejo os outros, as minhas circunstâncias....Escolho caminhos e vou tentando ver o "lugar" dos outros
Afinal quem penso que sou..
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Aviso:
As imagens que ilustram alguns posts resultam de pesquisas no google, se existir algum direito sobre elas, por favor,faça-me saber. Obrigada.
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