Sábado, 21 de Novembro de 2009

 

 

Desespero e cansaço...

 Numa semana particularmente marcada por problemasde indisciplina na escola, em que o meu já conhecido aluno C., vai ser suspenso pela segunda vez em um mês, escutei falar deste filme e assustou-me a compreensão/empatia que senti em relação a esta professora (Isabelle Adjani)...

Acredito que muitos de nós já teremos estado à beira de perder a cabeça no dia-a-dia da nossa profissão. Mas à escola pede-se, às vezes, que resolva todos as lacunas da sociedade e das famílias...E nós, por mais que nos esforcemos, não conseguimos sozinhos.

Temos feito (professores, funcionários, psicóloga) um esforço enorme no sentido de contornar a perturbação causada nas aulas pelo C., e tentado encontrar estratégias que permitam "retê-lo" na escola, percebemos o desespero da sua mãe (agora que entretanto ficou viúva e o C. perdeu o pai...), percebemos que somos a última chance do C. e que, uma vez expulso da escola, o seu caminho será o da marginalidade...

Nós sabemos. Mas estamos a ficar sem alternativas e isso faz-me sentir uma impotência que não me deixa dormir bem...

Ainda não desisti dele, continuo a acreditar que estando ali nas minha aulas, tentando que aprenda algo e  inserido numa comunidade com exemplos positivos, retardo a sua "queda" , chamemos-lhe assim. Mas depois vejo como a minha energia é totalmente absorvida por ele e, os outros meninos não têm de mim, de nós, a atenção que merecem e estão a ficar muito aquém do seu potêncial.

No fim do dia percebemos que a escola não esta a exercer a sua principal função: instruir e socializar todos.

 Todos os 249 alunos da escola precisam de nós e do nosso empenho, não deixar "ninguém" para trás tem sido um equilíbrio difícil de conseguir.

Obrigada por me lerem, escrever ajuda-me a pensar.

 

Nota: 

Sinopse:  Este filme, francês, interpretado  por Isabelle Adjani, “O Dia da Saia” é um drama sobre uma professora, Sonia Bergerac, que se descontrola emocionalmente devido ao stress causado pela indisciplina dos seus alunos. Numa aula descobre uma arma a sair de uma mochila, toma-a e, em desespero, usa-a para controlar os alunos e poder tentar dar a matéria. Um drama intenso que nos apresenta todos os problemas que afectam as escolas francesas, e infelizmente, também as portuguesas

 

 



publicado por Marta M às 13:39
Olá Marta
A minha semana também foi particularmente marcada pela indisciplina (não com um C, mas vários cs) e lembrei-me várias vezes da Isabelle Adjani. Para te ser sincera, nem sei se me assusto com a empatia que senti por ela e hoje não te vou poder ajudar porque estou mesmo farta de tentar resolver as lacunas da sociedade e da família. Não costumo escrever quando ainda estou sob o efeito de uma reacção emotiva, mas quando li este teu post só me deu vontade de desabafar e dizer que sinto uma enorme frustração. Desculpa Marta e sei que me vou arrepender de ter desabafado aqui. A ver se me passa e te escrevo algo mais sensato. Hoje não estou com vontade de ser sensata. Bjs
descobrirafelicidade a 21 de Novembro de 2009 às 15:13

Teresa, minha amiga:
Sabes, de certeza, que pelas escolas do país este sentimento de impotência e desânimo se alastra como uma doença má..Nós professores, com a nossa profissão que apoia a todos e aposta na inclusão, é a primeira a apercebesse de que algo anda muito podre, quando a nova geração esta a crescer assim, nessa roda livre ", chamemos-lhe assim.
Mas, sabes, há dias em que os alunos nos surpreendem...Ontem uma aluna com sucessivas retenções e má vontade militante, disse à directora de turma que: "até ando a perceber melhor a matéria" e, nas minhas aulas olhou longamente para mim e levantou o braço para se oferecer para ler e para responder a uma questão e...respondeu bem. E sorriu perante o meu elogio.
Eu sei, foi pouco, foi uma "ilha", mas foi. Percebes?
Que queres? Sou uma optimista militante.
Sei que me entendes.
Abraço
Marta M a 24 de Novembro de 2009 às 11:20

Errata: "Aperceber-se"
Marta M a 24 de Novembro de 2009 às 11:26

Marta
Tens mesmo razão: Há dias em que os alunos nos surpreendem e fazem acreditar que é possível. Hoje estou a viver um desses dias e são estas "gotinhas" que dão sabor à nossa vida. Um abraço de crença no futuro

Oh Marta
Nem de propósito...estive a almoçar com uma colega e o tema da conversa foi precisamente a indisciplina.
Não sabemos até onde isto vai chegar. Crianças com seis anos completamente eléctricas em que não se descortina qualquer tipo de pedagogia para alterar a situação.
É para desanimar.
Qual a origem? Como devemos actuar? Tantas perguntas que ficaram sem resposta!
O desânimo instalou-se e a falta de motivação é uma constante.
Continuo a ter esperança que melhores dias virão.

Beijos
Manu
Existe um Olhar a 21 de Novembro de 2009 às 15:59

Olá!
E o tema é assustadoramente "banal" não é?
Deveemos aceitar como boa a ideia da Daniel Sampaio "Escola para pais" ou "Inventem-se novos pais"?
A ideia já me pareceu mais ingénua. Começo a achar que alguns pais deverão repensar a possibilidade de colocar mais filhos no mundo ou assumirem a sua incapacidade de os educar sozinhos (por custar, custa - eu sei) e procurar orientação e ajuda.
Devemos preparar-nos para todas as funções e tarefas que vamos desempenhar na vida. Será que ser pais, não requer também alguma preparação e estudo?
Acredito que não seja tarefa menor...Ou estarei enganada e, qualquer um, capaz biologicamente, consegue ser "educar"?
Abraço
Marta M a 24 de Novembro de 2009 às 11:33

Olá, Marta!

Nós, velhos Combatentes do Ultramar, ou muitos de nós, somos confrontados com certas mazelas psiquicas causadas pelo stress de guerra ou «stress pós tarumático» que nos levam a maltratar alguns membros da nossa familia porque não nos demos ao trabalho de nos submetermos a um tratamento com ajuda de um verdadeiro psicólogo dedicado a estes temas das ferisa psiquicas de uma guerra imposta.

Com base neste meu raciocinio e perante este seu duro texto, de uma realidade gritante, pergunto se todos os professores, dedicados ao ensino, sem condições de defesa, não sfrem já do stress pós traumático causado pela obrigatoriedade de ter que sofrer, diáriamente, agressões sobre agressões, psiquicas, e nalguns casos fisicas também.

Analizando, tranquilamente, muitos de vós, professoras/es, divorciam-se por causa desta agressão diária. Deixo aqui a sua consideração a inclusão desta situação nas vossas justas e sábias reivindicações.

Abraço e bom fim-de-semana!

Marcolino
Marcolino a 21 de Novembro de 2009 às 18:15

Marcolino:
É verdade, o meu texto foi escrito de forma dura e...realista. Infelizmente.
Acredito que se devam dizer as verdades e olhar de frente para as questões, porque no final, a "realidade" não é escamoteável e perder tempo, às voltas, não faz o meu género.
Ter que lidar diariamente com a indisciplina de alguns e, tantas vezes, lutar (literalmente) para conseguir realizar o nosso trabalho - ensinar - é algo que assusta e...cansa. E revolta a prazo.
Tem razão, desgasta-nos e tira-nos a paciência para lidar com a nossa outra vida fora da escola.
Razão de problemas, conflitos e indisposições em casa?
Muitas. Todos os empenhados na profissão as sentimos.
Quantos a ser motivo de reivindicação juntamente com outros problemas da classe, penso que estão lá na equação. A questão é que com tantas "agressões" à classe nos últimos dois anos, tudo se tornou secundário. ..Até ENSINAR, veja lá!
Marta M a 25 de Novembro de 2009 às 18:26

Eu penso que esta indisciplina tem origem em casa e por causa de os pais não saberem educar os filhos com disciplina e valores. A escola tem muita influência, mas se uma criança não tiver uma educação de base, desde pequena, os professores pouco podem fazer, infelizmente. É como dizes, este post tem muito a ver com o que escrevi sobre a inconsequência na educação por parte de alguns pais que não o sabem fazer, criando crianças egoístas e que pensam que podem fazer tudo o que querem... É de lamentar.
Bom domingo.
cuidandodemim a 22 de Novembro de 2009 às 16:14

Oá!
Sim o o teu post trata da mesma realidade, sob o ponto de vista de outra profissão que lida com imensas pessoas, com diferentes educações e valores também.
Temos que, com a ajuda das novas gerações ver se ainda damos volta a isto.
Empenho, bons exemplos e acções de pedagogia são a minha arma de todos os dia.
Será suficiente?
Veremos.
Abraço
Marta M a 25 de Novembro de 2009 às 18:30

Olá Marta!
Situações assim, levam mesmo ao desespero, exactamente pela sensação de impotencia que referiste.

O mais grave, é que este tipo de situações estão em crescendo... talvez uma das razões seja o facto de os pais darem cada vez menos atenção às crianças, fazendo com que estas cresçam de forma desiquilibrada, porque solitária.

Um abraço de apoio para ti amiga.
Caminhando... a 24 de Novembro de 2009 às 10:11

Joana:
Apoio é o que mais se necessita quando bate esse desalento... Hoje o dia foi mais produtivo e o C. (e outros...) até se comportou dentro da norma e a prática lectiva até correu...
Mas eu sei que consigo fazer melhor, percebes? E quero poder ser a professora que sou capaz, todos os dias.
Os pais abandonam os filhos à sua sorte e autogestão , tens razão. É evidente que, perante tal negligência, os jovens ficam presos das suas vontades e isso, nem sempre é o que mais lhes convém.
Obrigada por "ouvires" ;)
Marta M a 25 de Novembro de 2009 às 18:36

Uí!!!
Sabia que andamos no limite da paciência com M.E e com a indisciplina, mas (para já) parece-me que ainda vamos controlando a coisa.
Boa semana mais calma p/ti
Paulo C a 24 de Novembro de 2009 às 14:35

Paulo:
Ainda não cheguei a tanto, mas olha que vontade de "apertar" uns pescocinhos , desde que apenas nos nosso imaginário...Nunca fizeram mal a ninguém. Se calhar até ajudam a deixar escapar um pouco de pressão.
Sei muito bem que me entendes. Logo tu com 1,90m , que te impões só pela presença - Eu bem me lembro!
A escola corre bem?
Abraço
Marta M a 25 de Novembro de 2009 às 18:40

Essa é uma das minhas grandes preocupações, ser ^de tal forma absorvida pelos que têm mau comportamento que negligencie sem querer aqueles que estão lá de boa vontade, desejosos de aprender e dar o seu melhor. Que saudades do tempo em que quase só tínhamos de nos preocupar em ensinar a matéria...
Beijinho
daplanicie a 24 de Novembro de 2009 às 22:06

Olá!
Pois lembras bons tempos...Ensinar a matéria era algo que me preocupava antes de sair de casa para a escola, agora é como "os vou fazer dar-me atenção?";" Como vou conseguir que estejam calados?" e, no fim do dia, "Será que me escutaram?".
No dia em que corrigo testes em casa e só me apetece chorar!
Temos que dar uma volta a sério nisto...
Obrigada pela visita
;)
Marta M a 25 de Novembro de 2009 às 18:45

Boa tarde Dr.a Marta.

Quero, primeiro, desejar-lhe a maior sorte do Mundo.

Acabei de ler o que escreveu sobre o "C". Imagino o quando Lhe está a custar e talvez saiba o quanto está a sofrer. Sei o quanto custa sentir-mo-nos manietados perante uma situação injusta e que tudo fazemos para a resolver e não somos capazes. Contudo, todos nós temos limites e, muitas vezes, somos obrigados a escolher, não o melhor, mas o mal menor.

Lamentamos que as instituições e as pessoas se alheiam dos problemas de alguns mas que se ramificam para todos nós.

Renovo votos da melhor sorte e aproveite o que de melhor tem a vida.

Um abraço de gratidão pelo que me deu e dá em prol da sociedade em geral .
joaquim rodrigues a 26 de Novembro de 2009 às 15:04

Seja muito bem vindo Sr. Joaquim mais as suas boas palavras ;)
Já sabe que tenho o maior gosto por o receber por aqui.
Sei que, pela especificidade do seu trabalho diário, compreende o que escrevi...Mais e, comojá lhe disse uma vez, admiro também a sua aposta em dar sempre o seu melhor, mesmo que o melhor que possamos fazer, seja, como diz: "o mal menor".
Tem razão, às vezes, é apenas isso que podemos fazer.
Este caso será um deles? AInda acredito poder fazer a diferença....Veremos.
Prometo visitá-los na escola ainda antes do Natal. Contem comigo.

O melhor do mundo para si também e, acredite-me, também aprendi muito consigo. Principalmente essa sua coragem de lidar com tantos casos (chamemos-lhes assim) e manter essa capacidade de acreditar em valores e princípios. Isso sim é raro nos dias que correm.
Sei que, todos os dias, encontra coisas e casos que o desiludem. Por isso, continuar a acreditar, para si, é mais diícil...
Continue a aparecer sempre que quiser é muito bem vindo. Já o sabe.
Abraço amigo e grato.
Marta M a 26 de Novembro de 2009 às 23:11

Vejo o mundo, somo o que me acontece, vejo os outros, as minhas circunstâncias....Escolho caminhos e vou tentando ver o "lugar" dos outros
Afinal quem penso que sou..
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Aviso:
As imagens que ilustram alguns posts resultam de pesquisas no google, se existir algum direito sobre elas, por favor,faça-me saber. Obrigada.
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