" Porque ninguém me escuta?" (1943)
As palavras são de Anne Frank, escritas entre os 13 e os 15 anos no seu Diário entre 1942 e a 1945, do seu esconderijo no anexo clandestino de um armazém comercial, em plena 2ª Guerra Mundial.
O seu diário, editado em livro, é um testemunho intemporal que reúne as cartas que esta jovem judia foi confiando ao seu diário, dirigidas a uma amiga imaginária a que chamava "Kitty".
"Querida Kitty:", assim começam todas elas. As cartas iniciais retratam uma adolescente típica, ainda que especialmente estudiosa e cumpridora.
Toda a sua sua vida se transforma no dia em que, fugindo às perseguições Nazis, Anne e a sua família tem que recolher à clandestinidade, num anexo, em Amesterdão. Permaneceram nesse esconderijo exíguo, sem sol, com mais 8 ocupantes, durante mais de dois anos.Foi esse, como se sabe, o infeliz destino de centenas de Judeus para fugirem às deportações e aos campos de concentração nazis.
O diário iniciado em liberdade, vai crescendo na proporção dos difíceis tempos que lhe tocou viver e o acelerar do seu amadurecimento é evidente no seu último ano de escrita. O seu espírito analítico e crítico vai-se apurando e, em vesperas do seu esconderijo ser desmascarado e invadido pela gestapo, é uma Anne madura, realista e surpreendentemente introspectiva que escreve a última carta que se lhe conhece.
Anne morreu em Março de 1945 no campo de concentração de Bergen-Belsen, dois meses antes da libertação da Holanda.
Li este livro, oferecido pela minha mãe, com muita emoção no ano de 1977 (assim consta debaixo de uma assinatura infantil que me fez sorrir...). Lembro-me da ansiedade com que, no fim das aulas o procurava, quer pelas afinidades que sentia com aquela jovem adolescente , quer pelo sentimento profundo de revolta que sentia ao ir incorporando a noção do seu sofrimento e da profunda injustiça que sofrera...
Recordei-a esta semana pela divulgação de imagens inéditas desta Anne, minha amiga, cujo rosto só se conhecia fotograficamente. O vídeo foi divulgado pela Fundação Anne Frank e foi notícia nos jornais e televisões de todo o mundo.
Para mim foi emocionante observá-la assim "viva" e vibrante - em movimento - na janela da sua casa, num dia de festa. Conhecer visualmente este quotidiano de Anne, apenas alguns meses antes de que o mundo lhe caísse em cima, humanizou-a ainda mais para mim.
E resgatou-a, ajudando a corporizar a sua energia vibrante, a sua alma confiante e esperançosa que se percebia, mesmo nas piores circunstâncias, na sua escrita.
Reconheço-a nestas imagens, ou melhor, reconheço o seu espírito inquieto e empreendedor.
Agradeço de forma penhorada a quem casualmente a filmou nesse dia e hoje permite vê-la assim, finalmente, em liberdade...