Queridos amigos:
Volto hoje, apesar de estar numa época de reserva e recolhimento, porque estou a tentar crescer...
E crescer, leva energias, concentração e ...tempo.
Volto hoje, apenas para celebrar a Luz da Alice.
E porque lhe prometi que o faria no meu blog.
A vós todos, quero que saibam que continuam no meu coração e que,
cá em casa, tudo está um pouco melhor :)
Alice
Conheci a Alice há mais ou menos 3 anos.
Estava numa consulta de rotina com a minha filha e ela, voluntária do IPO passou por nós, atarefada e atenta, duas, três vezes...
E eu vi-a.
Comentei com a minha filha que aquela senhora tinha um luz forte e uma energia que se parecia poder tocar... A sala de consultas iluminava-se com o seu sorriso e passagem. E tratava-se alguém muito magra e com a ausência de cabelo que denunciava que, para além de voluntária, estávamos em presença de alguém que estava a meio de um tratamento de quimioterapia...
Sim, o seu corpo estava fragilizado, mas a sua alma estava resplandecente e a sua boa-vontade e ânimos contagiavam.
Não consegui resistir e disse para a minha filha que "tinha" que falar com ela, apesar dos seus rogos em contrário, fui.
Claro que fui recebida com um sorriso e com uma simpatia que nunca esqueci.
Não me enganara, a forma como a Alice falou, o entusiasmo e sabedoria do que disse e a sua disponibilidade serena para aceitar o que a vida lhe enviara - foi uma lição que nunca esqueci. Soubera da doença numa consulta ali mesmo, sozinha, e guardara-a para si durante mais de 24h porque.. era o dia do seu aniversário e não queria estragar a festa que a família preparara, nem entristecer o seu marido...
E contou-me como aguentou todas aquelas horas que pareciam não ter fim até que, todos atendidos e acarinhados, se foram embora para casa e ela pôde ficar sozinha...Com a sua circunstância e diagnóstico.
Nessa noite não dormiu e passou-a na varanda a pensar, a "pesar"...
E resolveu que havia de resistir e lutar - fosse como fosse.
Não era o fim do mundo - E não foi.
E haveria de dar um sentido a tudo o que lhe caia em cima
Partilhou tudo isto comigo, sem me conhecer e abriu-me a alma. E eu abri-lhe a minha.
O tratamento era duro e exigente e ela a tudo correspondia e aceitava. Em paz. E sorrindo, pelo que vi e me contam.
Mas não era um riso alienado, ou de fuga..Era um sorriso sereno e cheio de vida, luminoso - porque sabia que, se essa provação viera à sua vida, era por alguma razão... E a razão foi "abrir-se", "dar-se".
Abriu-se aos outros, aos que sofriam como ela e resolveu partilhar, generosamente, as poucas energias que às vezes sobravam dos dias de tratamento.
Desde essa altura, e apenas com alguns intervalos em que a saúde não lhe permitia, tornou-se voluntária no IPO.
Hoje reencontrei-a e, papeis invertidos, reconheci-a pelo olhar, novamente, na sala de espera.
Mais cansada e mais magra, mas o mesmo sorriso e a mesma disponibilidade. E a mesma aceitação hoje, iniciado novo ciclo de quimioterapia....
Reconheceu-me e, rodeada de amigas, e fez questão de se levantar para me abraçar. Não faltavam braços para a acarinhar e amparar, como se a vida lhe devolvesse o tanto que dá de si aos outros.
Agradeci-lhe tanto...
Foi por ela que estava ali, foi pelo seu exemplo que me tornara, também eu, mais disponível. E mais atenta.
A Alice é corajosa e lúcida, todos os que trabalham com ela o reafirmam.
E sublinham algo que se percebe à distância: é luminosa e inspiradora.
Concordo e agradeço este luxo que é poder partilhar e ser inspirada por alguém assim,que nos acrescenta, nos interpela e levanta a fasquia da qualidade para todos nós.
Obrigada de coração Alice.
Força, que estamos todos aqui a torcer por si!
:)