Domingo, 17 de Fevereiro de 2013

 

Os meus vizinhos de cima, como provavelmente milhares de portugueses, perderam a sua casa.

Durante 23 anos estiveram aqui. Foi toda uma vida a senti-los  e a escutá-los aqui por cima...

Foram os filhos que criámos juntos, os aniversários, os cafés, os funerais, as partilhas grandes e pequenas quando nos encontrávamos na escada...

A conjuntura arrastou-os para uma situação em que já não conseguiram suportar financeiramente a prestação da sua casa e tiveram que a entregar ao banco. E nós, os que assistimos e confrontados com crueza dos factos, pensamos para nós: até quando aguentarei a minha?

Partiram com a dignidade e discrição possíveis e nós assistimos num silêncio cúmplice e impotente...

Na despedida, escolhemos as palavras na tentativa de minimizar a situação e torná-la mais confortável para todos. Sim, para todos, porque a todos doeu.

Eles partiram e levaram consigo um pedaço da nossa vida.

Quando  fecharam a porta e as persianas (que permanecem há duas semanas assim -em baixo) encerraram um capítulo de inúmeros sacrifícios, que sei levaram até ao limite, a tentar  manter a casa nos últimos  anos.

A casa sem móveis, sem cortinas, sem fotografias - sem eles que a tornavam viva - é a expressão desse tempo exigente e desesperançado que nos é dado viver.

Não deve estar fácil estar na pele deles...E continuar a lutar...

Devia doer também a quem tem responsabilidades pela situação de afundamento a que o país e as famílias chegaram.

Será que conhecem, de facto, o que se está a passar?

 Já o sentiram assim, na pele?

 

O silêncio que se instalou aqui por cima é insurdecedor.

E revoltante.



publicado por Marta M às 21:53
Um relato comovente e que nos causa revolta.
Um silêncio que que dói...como te compreendo!
Só não consigo entender a indiferença e apatia de quem nos (des)governa e se continuem a permitir que este tipo de violência comece a ser um lugar comum para tantos portigueses.
Mundo triste este em que vivemos, amiga!
Nada posso fazer a não ser deixar-te um abraço de esperança.
sentaqui a 18 de Fevereiro de 2013 às 00:34

Amig, é mesmo triste quando perdemos assim os Amigos, e ainda por cima por uma causa que nos revolta! Não sei o que irá acontecer a este País que amamos ,mas que nos faz por vezes sentir que já não é a nossa Pátria. É triste.
Beijinho
miilay
miilay a 18 de Fevereiro de 2013 às 17:47

Olá Marta
Infelizmente todos os vemos casos desses e infelizmente parece-me que irão ser cada vez mais as pessoas que são obrigadas a deixar de pagar as suas obrigações.
Há 5 anos eu e o meu marido tivemos de tomar uma decisão relacionada com a nossa casa, embora não tivesse de o fazer por ter prestações sem atraso ou por não conseguir (ainda) pagar, não foi uma decisão facil.
Na altura o emprego dele estava em risco, tínhamos deixado de "viver" a vida como gostávamos para poder cumprir as nossas obrigações e vimos que a única hipótese era vender a casa. Felizmente a crise ainda não estão tão instalado como actualmente e conseguimos comprador.
Imagino portanto que a dor dos teus vizinhos seja enorme, assim como todos os que os rodeiam e que gostam deles.
Eu optei por alugar casa, não queria ter de passar pelo mesmo, claro que tenho de pagar renda, mas se algo correr mal mudo para uma mais pequena e mais barata.
Beijinho
momentosdisparatados a 19 de Fevereiro de 2013 às 18:16

Tenho tanta revolta de termos chegado a este ponto!!!
is@
Isabel a 25 de Fevereiro de 2013 às 11:14

Eu vejo partir com tristeza o meu mano, o meu único mano! Sai revoltado, atirando-se de cabeça para um futuro desconhecido mas que espera mais auspicioso do que no seu próprio país!

Vemos partir quem mais gostamos em nada podermos fazer....

O silêncio é, de facto, ensurdecedor....
golimix a 25 de Fevereiro de 2013 às 19:14

É um drama a somar a milhares deles. Um familiar meu também vai ficar sem casa.
As casas nunca foram deles, foram sempre dos bancos. Milhões de portugueses caíram nesta burla!
Cumprimentos
pimentaeouro a 2 de Março de 2013 às 00:02

Olá Marta!
Dramático este facto que nos descreve!
Depressa se caminha para uma vida ao ar livre, tal como os Ciganos o fazem...
Já estivemos bem mais longe!
Abraço
Marclino
Marcolino a 15 de Março de 2013 às 01:42

Querida amiga

As palavras
que semeiam o pensar
são preciosas.
Delas nascem sentimentos
que nos tiram do lugar comum
e nos fazem sentir
o perfume
precioso da vida.

Olha o céu de manhã.
Vês como brilha iluminado
por teus sonhos...
aluisio cavalcante jr a 16 de Março de 2013 às 13:16

Obrigado querida Marta por lembrar de forma tão simples e real a situação a que estamos expostos, e o drama pungente daqueles que se vão, perdendo não por culpa sua, mas pelo sistema destruidor em que nos meteram.

Desculpe, mas não posso evitar. Isto faz-me lembrar o nazismo.
No gueto de Varsóvia onde foram reunidos e encerrados, apesar dos que morriam de fome à sua volta, os homens e melheres judias, continuavam negociando e transaccionando e traficando, esperançados de que iriam sobreviver, e sobreviveram, mas foram muito poucos.

Da mesma fonte somos levados ao limite, e tal como eles, somente podemos assistir impotentes, porque achamos, sonhamos, que vamos conseguir.

Queira Deus que consigamos, cada um de nóss escapar. Entretanto, continuamos com a esperança de encontrar trabalho antes que os subsídios acabem.

Desculpe-me o desabafo. Obrigado por ter exposto essa situação.

Com amizade

bento
porta-estandarte a 9 de Novembro de 2013 às 00:12

Vejo o mundo, somo o que me acontece, vejo os outros, as minhas circunstâncias....Escolho caminhos e vou tentando ver o "lugar" dos outros
Afinal quem penso que sou..
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Aviso:
As imagens que ilustram alguns posts resultam de pesquisas no google, se existir algum direito sobre elas, por favor,faça-me saber. Obrigada.
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