Sábado, 06 de Outubro de 2012
 

Como foi que a minha ida à Manifestação do "Terreiro do Povo" e a passagem pela Fundação Saramago se relaciona com o livro acima e com o simpático e educado casal de idosos que se cruzou comigo numa das livrarias da cidade esta semana?

Pois, porque para além desta minha veia profissional de historiadora, em que tu tudo se relaciona e interage num todo que me parece orquestrado e coerente, gosto de observar e encontrar pontos comuns...Sincronidades, numa palavra.

Em Lisboa o Autocarro estacionou muito próximo da Fundação Saramago e, pela primeira vez, consegui aproximar-me daquela Oliveira centenária onde foram depositadas as cinzas do meu querido José Saramago. Com um respeito profundo que nem o barulho nem os transeuntes conseguiram diminuir, deixem-me estar por ali...No chão a frase dele - absolutamente eloquente sobre o sentimento que a morte lhe suscitava:

"Mas não subiu aos céus, se à terra pertencia."

E fiquei a pensar para mim que, de certa forma, a eternidade também passava por ali, por aquela oliveira e pelas cinzas que agora também a alimentavam e faziam parte dela e de todos aqueles novos ramos e folhas... Saramago ressurgia da terra e se tornava vida novamente, desta vez como folha, como fruto que alimentava os pássaros que por passavam e que o levariam a outras paragens dentro dos seus estômagos.

Assim, ele que era um ateu convicto, mesmo não subindo às nuvens (nem ao ceú celestial) atingira a eternidade e retomava o ciclo da vida sob outra forma.

 Poucos dias depois, numa livraria da cidade, à procura de um livro para a minha filha, reparo neles: Um casal já muito idoso que falava entre si e remexia as prateleiras de livros com um gesto cuidado e notoriamente pouco habituado àqueles ambientes.

Não intervi (embora me apetecesse muito), mas percebi que algo importante se passava ali e fiquei por perto...

Algum tempo passado escutei o suspiro excitado e discreto: "É este, e!" - Disse ela.

Foram os dois para a caixa e, porta-moedas em punho, procuraram a nota e os trocos bem contadinhos. O livro pousado no balcão, foi embrulhado sob o olhar fervoroso e claramente entusiasmado dos dois. Pareciam ter descoberto um tesouro...

O livro em questão, um dos mais vendidos neste ano, reproduz a experiência relatada de uma criança que, em paragem cardíaca, terá visitado o Céu, contactado com Jesus e com familiares já falecidos (e desconhecidos dele) e retomado à vida com uma missão de partilha e esperança. O título é muito elucidativo da mensagem de confirmação que veicula.

Eram os dois mais idosos que Saramago à data da sua morte e, provavelmente, muito menos cépticos. Certamente procuravam um caminho, uma pista, uma confirmação das suas crenças e da suas expectativas nesta fase das suas vidas.

Pareciam, tal como Saramago com a sua oliveira, tê-la encontrado neste livro que alguém lhes recomendara.

Mostravam genuíno entusiasmo e pareciam felizes …

Ainda bem, ainda bem que, em assuntos tão profundos e que inquietam o nosso coração, nos são permitidas tantas propostas de resposta.

À medida do que somos capazes de entender...

 E aceitar.

 

 

 



publicado por Marta M às 18:40
Nem sei que diga.
Para não estragar, cumprimento e saio de mansinho com imenso respeito pela autora do texto.
BFDS
DyDa/Flordeliz a 6 de Outubro de 2012 às 18:55

Flor:
Todas asperspectivas são bem vindas.
Só aprendemos assim:uns com os outros...Pelo confronto saudável de ideias. e de perspectivas.
Gosto desta multiplicidade de repostas para as inquietações que, mais ou menos, assolam o coraçãode todos...
Nâo seri estranho haver só uma resposta definitiva quando está tudo por conferir e o nosso coração tem tantas perguntas?
Abraço grato pela tua visita
Marta M
Marta M a 26 de Outubro de 2012 às 15:38

Amiga gostei do texto, e temos que acreditar que viveremos sim de outra forma. Ou no Céu, ou como o grande Saramago!
Beijinho
miilay
miilay a 6 de Outubro de 2012 às 20:16

Sim Miilay:
Penso que as duas respostas são bastante espirituais e combinam cometernidade.
Obrigada pela visita e pela paciência pelo tardar da resposta :)
Isto não está fácil...
Abraço
Marta M
Marta M a 26 de Outubro de 2012 às 15:39

Ainda não estou numa de entender, muitas coisas, e já peguei nesse livro cuja imagem me chamou a atenção. Embora aceite que cada um tem que ter algo em que acreditar.

Bijnhos Marta e boa semana
golimix a 8 de Outubro de 2012 às 16:50

Mais uma vez, entendeste e fico-te grata por isso;)
(Isto começa a tornar-se um hábito!)
Quanto ao entendimento, também eu amigo,continuo à procura das respostas...E como as dfinitivas não me satizfazem totalmente e o meu coração continua inquieto, pois gosto de percorrer propostas sem medo ou ideias feitas...
Tantas questões se nos colocam,não é?
Abraço
Marta M
Marta M a 26 de Outubro de 2012 às 16:10

Golimix:
ERRATA, 2º parágrafo -"amiga"
Marta M a 26 de Outubro de 2012 às 16:11

ACEITAR...diferenças, aprender com elas, respeitar e opinar de forma brilhante como a que li neste texto e que reflecte bem toda a sabedoria que possuis dentro de ti.

Beijos Marta
Existe um Olhar a 10 de Outubro de 2012 às 21:53

Manu.
Sim, é exactamente isso:Aceitar diferenças e procurar que elas me ajudem a encontrar as respostas que inquietam o meu coração...
É caminho longo,longo...
Os tempos não estão fáceis, mas as boas palavras que me deixas ajudam os raiozinhos de sol passarem :)
Grata, deixo-te um abraço
Marta M
Marta M a 26 de Outubro de 2012 às 16:14

Olá Marta
Ofereci esse livroáminha mãe, no Natal passado.
Já andava a falar nele há algum tempo e claro ficou feliz.
também acabei por o ler.
Agrada-me a ideia de quando for "embora" vá para junto de algumas pessoas que já partiram que gostava.
Beijinho
momentosdisparatados a 26 de Outubro de 2012 às 21:33

Vejo o mundo, somo o que me acontece, vejo os outros, as minhas circunstâncias....Escolho caminhos e vou tentando ver o "lugar" dos outros
Afinal quem penso que sou..
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As imagens que ilustram alguns posts resultam de pesquisas no google, se existir algum direito sobre elas, por favor,faça-me saber. Obrigada.
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