(Imagem da Internet - Google)
Não se se o notam, mas eu já dei pelo espaço e pela receptividade que começa a existir para o uso de certas palavras...Pelo menos à minha volta, noto-o.
Lembro-me como há apenas alguns anos o uso de certo vocabulário (como fraternidade, fé, carinho, afecto, compaixão...) era recebido com um levantamento de sobrolho e ares de enfado e desconfiança.
Actualmente, fruto provável do tempo difícil e exigente que vivemos, muitas pessoas e empresas começam a mostrar abertura para a consideração do peso dos afectos, quer nas relações pessoais quer nas laborais.
E noto até que, se antes tais alusões podiam soar a uma certa "lamechice" para quem não conseguia separar as águas, hoje a forma como alguns se dispõem a escutar, demonstra um certo amadurecimento social que me faz sentir cada vez mais "em casa" por aí... :)
Esta semana eu que, mal grado o profissionalismo e correcção de procedimentos que me imponho, nunca abdico de "salpicar" esse mesmo desempenho profissional de tudo aquilo que o torna mais humano e real, tive uma experiência interessante.
Foi assim que, perante o sério desagrado manifestado por alguém ao meu lado, e constatada a persistência no erro de outro, aliada à sua incapacidade de ultrapassar a situação e reconhecer o seu engano públicamente...Perante o impasse incómodo, ousei discretamente e, num impulso, disse:
- "Porque não deixas passar e ultrapassas isto? Porque..não tens compaixão para com ele?"
Bem amigos, mal usei a palavra, o meu estômago encolheu-se....E agora? Serei tomada por lamechas? Pouco profissional? Pouco racional?
Temerosa e quase arrependida, aguardei breves segundos (que me pareceram horas) e, qual não foi o meu espanto, recebo como resposta um silêncio e um olhar de acolhimento que me pareceu até de alívio, pela minha proposta.
E assim, pelo menos naquele dia, naquele momento, o impasse se desfez, o embaraço foi colocado a um canto e... Avançámos.
O gesto da compaixão proposto não implicou qualquer sentimento de superioridade ou de pena, mas tão simplesmente de compreensão e empatia.
E pelo reconhecimento dentro de cada um de que, todos nós, em alguma altura da vida precisaremos também que outros tenham esse sentimento em relação a nós...
Semear o que queremos colher - parece-me a chave deste sentimento.
Usar a palavra é, parece-me, cada vez mais fácil, não sei é se o gesto e o coração estarão, depois, à mesma altura.
Naquele dia, juntos, conseguimos.
Nem tudo está perdido :)