Sexta-feira, 10 de Junho de 2011

Uma mesma realidade permite sempre diferentes leituras, não é? Todas as situações, por pior que se apresentem, pois têm sempre mais do que um lado...

Sim, todos sabemos.

Mas existem testemunhos, histórias de vida que o demonstram mais do que linhas e mais linhas de prosa positiva e pedagógica...

Assim é este testemunho que chegou a mim. Um entre tantos que me ajudam a ver cada dia mais longe...

O Mário é um colega meu da escola que esteve na Guiné, como muitos homens deste país a lutar (?) pela pátria em nome de um governo ditatorial em circunstâncias que todos nós conhecemos relativas à Guerra Colonial.

Mas não é dele que pretendo falar, embora ele seja alguém muito sensível e de uma simpatia contagiante, apesar das evidentes sequelas de guerra que carrega.

Foi de uma história que partilhou comigo e com a nossa turma do 6º ano, a propósito de perspectivas, na aula de Área Projecto, onde leccionamos em par pedagógico.

Conta o Mário que um amigo seu, o Sérgio, também deslocado em tempos para a Guiné, soube que um amigo de infância de ambos tivera um acidente em combate ao  pisar uma mina terrestre.

Evacuado para Lisboa em estado crítico, lutou pela vida de forma extraordinária, não sem pagar o preço extremo de perder as duas mãos, parte de um braço, as duas pernas e, ter tantos estilhaços no rosto que, em pouco tempo, o cegaram e lhe limitaram a audição.

Sim amigos, tudo isso...

O Sérgio, por morar em Lisboa, deslocou-se ao hospital militar para visitá-lo.

Na recepção, ao perguntar pelo seu amigo Manuel, é chamado à parte e advertido sobre a situação clínica do seu amigo (levou apenas meses a morrer) e sobre o seu estado físico.

Munido de coragem, segue o enfermeiro que o leva por entre aquelas camaratas repletas de jovens feridos numa luta escolhida e determinada por outros... Ao fundo vê o Manuel, ou o que restava do jovem seu amigo.

 Encontra-o com um olho vendado e outro fechado por uma cicatriz extensa e disforme. Paralisado, dependente e encostado sobre uma série de almofadas e apoios, não se podendo mover sob nenhum aspecto.

O Manuel, alienado e dorido, não se percebe da chegada do amigo e, somente quando este o toca e o chama pelo nome, retoma a vida - reconhecendo-o de imediato e, cheio de alegria, o saúda:

- "Sérgio, oh Sérgio! Aí pá foi uma sorte! Uma Sorte! - Morreram todos e eu safei-me.

Uma sorte, pá!"

 

NOTA: Não é preciso dizer mais nada, pois não amigos? Os nossos alunos ficaram em silêncio por algum tempo...



publicado por Marta M às 17:38
Realmente, dependendo da perspectiva... o que é azar para uns, pode ser uma sorte para outros.
Esta história abana qualquer um, seja qual for a sua perspectiva...
excessiva a 10 de Junho de 2011 às 21:39

Talvez entre tanta má sorte, a sorte de não se conseguir ver, tenha sido a menos má.
Há vezes (situações) em que o melhor é ficarmos cegos por dentro e por fora.
Bom resto de dia.
DyDa/Flordeliz a 10 de Junho de 2011 às 22:47

Sim Flor.
E é verdadeira e mais triste ainda...
Este meu colega conta coisas de tal dimensão que todos os nossos problemas existencias e outros, ficam a parecer mnúsculos...
Dá que pensar, por isso a partilhei.
Abraço e obrigada pela tua visita :)
Marta M
Marta M a 16 de Junho de 2011 às 16:09

Olá minha amiga. Li e chorei. A vida é estranha, muito estranha. Enquanto uns se queixam de tudo e nada sem motivo por vezes ou se exaltam e revoltam por ter um azar grave (que não quantifico a dor que seja) e negam a reabilitação, os que os rodeiam e se tornam amargos e irascíveis , este homem, completamente estropiado dá graças pela vida. E se pensarmos como devemos a vida é uma dádiva imensa. Cada vez que reclamamos devíamos pensar nestes casos, na fome, na miséria, nas doenças terminais, no que há de verdadeiramente triste no mundo. Deus nos proteja e aos nossos, a todos no fim e nos dê um pouco mais de humildade e agradecimento por cada dia estarmos bem e junto dos nossos apesar de algumas contrariedades e dificuldades... Estamos vivos! Outros morrem, sofrem, perdem membros, filhos, pais, uma desgraça e nos? "Safámo-nos pá! Vamo-nos safando!!!" Um abençoado fsemana para si e todos que ama e que Deus vos proteja sempre!!!
Fátima Soares a 10 de Junho de 2011 às 23:10

Olá Fátima.
Obrigada pelas palavras que partilha e por entender tão bem o sentido do post .
Realmente, perante estes e outros dramas percebemosque,mais do que aquilo que nos acontece, conta muito a forma como encaramos a situação.
Uma lição de vida, não é?
Abraço e obrigada pala visita
Marta M
Marta M a 16 de Junho de 2011 às 16:11

De arrepiar! Penso que me podia acontecer o mesmo. Recordo-me dessa guerra que terminou para nos a 37 anos mas que depois continuou para outros. Fim do sofrimento para uns continuação do sofrimento para outros. Estamos sempre neste estado de vida. Se temos saúde, vamos viver a vida enquanto a temos.
Cumprimentos.
batidasfotograficas.blogspot.com
batidasfotograficas a 12 de Junho de 2011 às 00:30

Olá.
Bom vê-lo de novo por aqui.
Sim, a vida troca-nos as voltasem minutos e essa capacidade de aproveitá.la em pleno nos bons ou nos maus momentos é uma aprendizagem muito, muito útil.
Grata pela visita
Marta M
Marta M a 16 de Junho de 2011 às 16:13

Olá Marta, bom dia...!
Estive em Coimbra, desde o dia 9, onde cjheguei às 10 da manhã, até ontem, dia 11 de Junho de 2011, até às 17 horas, hora a que regressei a Lisboa! Estive hospedado no Ibis, com um velho Amigo que quando faz longas deslocações, e a esposa não tem vontade alguma de se ausentar de casa, telefona-me para o acompanhar. Este Aigo, é a tal Amizade com 59 anos de existencia! Enquanto ele tratou da vida dele, resolvi passear ao longo naquele fabuloso Jardim, que embeleza, aquela lindissima margem Mondeguina, muito bem recuperada, lindissima e asseada! Como sempre resolvi tirar algumas fotos daquele local paradisiaco!
Estive em Coimbra no movimento estudantil de 1962 para, logo no ano seguinte, ser enviado para Angola...!
Conhecia Coimbra como ponto de passagem enrre Sul e Norte, como ponto de negócio quando tinha que tratar aí de assuntos da Companhia em que trabalhei 30 anos. Conhecia o Portugal dos Pequeninos, passeio/paragem obrigatório, quando as minhas filhotas ainda eram nénés, e deliravam andar metidas nas casas miniaturas. Há dezenas de anos que lá não vou, ao menos para ver determinadas mufanças que, informaram-me, terem tomado forma desde 1989 até à data.
Conheci a Coimbra dos estudantes boémios, sem ser nas Praxes, e na Queima, apanhei por lá algumas bezanas de caixão à cova, em noitadas de fins-de-semana, com muita conversa, muito devaneio, muito dedilhar nas cordas das guitarras, e muito copo à mistura. Ía lá poucas vezes, mas quando por lá aparecia era uma festa, letra a letra de fados cada vez mais arrastados, até o sono nos vencer!
Ainda era solteiro, e continuaria a ser, quando me entregava a essas desregras ocasionais.
Desta vez conheci uma Coimbra bem diferente. Uma Coimbra com Catedrais de Consumo, Uma Coimbra com um complexo Gimno-Desportivo repleto de juventude, principalmente neste passado 10 de Junho, com uma instações exemplares. Também vi, por volta da meia-noite, um grupo de jovens, rapazes e raparigas, a descarregarem, extintores de incendio, por baixo dos automóveis estacionados perto do McDonald's, para dar a sensação, com aquela fumarada branca, de estarem a pegar fogo.
Abriram-se algumas janelas, mas ninguém chamou a policia. Vi o mesmo grupo, misto, de 15 a 16 jovens, a destruir, inconscientemente, um Parque infantil, ao utilizar grande parte dos binquedos, próprios para uso dos nénés, do que para estes jovens, alguns, muito poucos por sinal, com um grau de alcolémia bastante elevado, já sem imaginação para preencherem as suas horas de ócio...! Acompanhava-os a irreverencia, a alegria, os copos e aquilo que é próprio em alguns jovens adolscentes, da actualidade: Deixem-nos à solta...!!!
Olhe, Marta, não me escandalizei, mas ri a bom rir, até às duas da manhã, hora em que, ao fim de mais de 3 dezenas de gestos de despedida, se resolveram regrassar a casa nas suas aceleras, outros a pé, ainda alguns, muito poucos, nos transposrtes dos familiares!
Deitei-me satisfeito, depois de um dia em que me fartei de andar a pé!
Vamos lá à estória que nos narrou, tão bem!
Marta; recordar passados tristes não é fado, não é recordar, é, acima de tudo, masoquismo!
Andei na guerra. Fui ferido; tornou-se passado. Hoje, afasto-me dos meus antigos camaradas de armas, porque a sua conversa é de quererem, a todo o custo, materializarem o passado que apenas reside nas suas mentes!
Esta minha Amizade, já com 59 anos de existencia, andámos ao mesmo tempo por zonas adversas, inóspitas, e perigosas da guerra em Angola. Quer acreditar que nunca falamos sobre esses tempos, e quando alguém tenta enveredar por esses caminhos a nossa resposta é: Eh pá..., vai tratar-te dessa doença e não nos chateies!
Há médicos, existiram sempre, que resolvem estas questões dolorosas, do fôro psiquico, o chamado síndrome pós-traumático, daqueles que andaram em combate, daqueles que perderam um filho, a esposas, o marido, um braço, uma perna, um casamento; vitimas da violencia doméstica, fisica ou psiquica, casual, ou continuada; perca de um trabalho, uma grande amizade, em fim, algo que os traumatizou violentemente.
Adorei Coimbra, diverti-me e regressarei lá dentro em breve!
Um beijinho para si
Marcolino
Marcolino a 12 de Junho de 2011 às 11:01

Marta,
Tive a sensação de que este meu texto estava pleno de «gralhas»! Cerifiquei-me agora mesmo, e confirmei a minha desconfiança!
Peço-vos milhões de perdões, por tanta «gralha junta» mas meus olhos pioraram nestas últimas 3 semanas. Só tenho consulta confirmada, para a equipa que me operou em Santa Maria, no próximo dia 12 de Outubro, salvo o erro e omissão. Até lá, haja calma porque, novas intervenções cirurgicas, não vão ser posiveis!
Mas fique tranquila que a minha boa disposição não se irá embora, assim de um dia para o outro, já tenho trei de anos, o suficiente para não me encafuar em casa...!!!
Abraço
Marcolino
Marcolino a 12 de Junho de 2011 às 18:33

Marcolino:
Começo a responder por si meu amigo e o primeiro que me ocorre é colocar-lhe uma questão:
- Porque não disse que estava pela minha terra?
Não lhe disse já que seria um gosto tomar um café consigo?
Teria sido um imenso gosto, acredite-me ;)
Agora voltando ao tema do post, sim -percebo que certos assuntos (fantasmas?) têm que ser exorcizados em ambientes próprios...Nem é minha intenção falar deles aqui.
Apenas coloquei transcrevi para o blog uma história que me tocou e ajudou a pensar sobre peso que as coisas realmente têm.
Muito interessante a vida, não acha?
Coimbra é sempre Coimbra, tem razão.
Abraço grande e ainda um pouquinho zangado consigo ;)
Marta M
Marta M a 13 de Junho de 2011 às 19:48

Olá =D
Começou uma nova fic, que decerteza irás gostar, o nome da fic é " A new Star".
Já postei o Prefácio, as personagens e o 1º Capitulo, mas podes ver tudo no link em cima do meu blog, onde irá dizer isso.
http://my_dreams_of_love.blogs.sapo.pt/
Espero que gostes, e comenta quando poderes =D
a 12 de Junho de 2011 às 22:02

Olá Seja bem vinda.
Vou fazer o possível para estar a tenta à sua história.
Obrigada pela visita
Marta M
Marta M a 16 de Junho de 2011 às 16:14

Quando acabei de ler emocionada esta história de vida, apenas me veio à ideia uma reflexão... Queixamo-nos de tanto por tão pouco, falamos e refilamos muitas vezes de barriga cheia, quando afinal nos esquecemos de agradecer todos os dias a vida, mesmo por mais dura que pareça ser.
Hoje apetece-me dizer:
-Que sorte Marta, estamos cá, estamos vivos!

Beijos
Manu
Existe um Olhar a 13 de Junho de 2011 às 09:21

Estamos Manu .
Vivas e de saúde, que me parece o mais importante nesta oportunidade de vir a esta vida e crescer nela o suficiente...
Estou cheia de testes, mas anseio as férias para poder ler e escrever com vagar e estar com as amigas com quem tenho uma conversa pendente......... :)
Abraço grande
Marta M
Marta M a 16 de Junho de 2011 às 16:17

Não há palavras para expressar o que se sente ao ler uma história como esta, nem palavras têm estes Homens para o que viveram, lutaram e sofreram...
Bjns
cuidandodemim a 15 de Junho de 2011 às 13:13

Sim amiga e deram a vida pela por uma política colonial que cedo deixou de fazer sentido..
Arrepia-me pensar nestes jovens mobilizados para África....
Triste e revoltante.
Mas ela não reflecte nenhum desses sentimentos, já viu?
Incrível.
Uma lição de humanidade amiga
Abraço
Marta M
Marta M a 16 de Junho de 2011 às 16:20

Essa historia real mexe com qualquer pessoa.
E é um exemplo para a nossa vida.
Para a mesma situação, há sempre outras prespectivas.
beijinho
geriatriaaminhavida a 18 de Junho de 2011 às 18:29

Vejo o mundo, somo o que me acontece, vejo os outros, as minhas circunstâncias....Escolho caminhos e vou tentando ver o "lugar" dos outros
Afinal quem penso que sou..
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Aviso:
As imagens que ilustram alguns posts resultam de pesquisas no google, se existir algum direito sobre elas, por favor,faça-me saber. Obrigada.
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