Umas das características dos tempos que vivemos é a desilusão.
O desencanto instalado e, em consequência, a ausência de perspectivas de futuro.
E isso é absolutamente assustador e coloca um país K.O (knock out)...E desmobiliza gerações inteiras de portugueses, a começar pelos mais jovens.
O anúncio da entrada do Dr. Fernando Nobre nas listas do PSD para as próximas legislativas surpreendeu-nos ontem ao jantar e ficámos todos sem saber o que pensar.
O Dr. Fernando Nobre é uma espécie de reserva moral desta casa, um símbolo de cidadania responsável e de indiscutível entrega ao outro. Não é possível negar todo o serviço prestado por este médico em função dos mais desfavorecidos em claro prejuízo e sacrifício da sua vida pessoal e profissional.
Foi a partir dessa certeza que apoiámos a sua candidatura e, provavelmente, até votámos por ele em grande número cá em casa...
E fizémo-lo porque admiramos a sua coragem, a sua independência e sua inegável estatura moral.
Ontem, eu pelo menos, que gosto de pensar e medir as coisas antes de emitir sentenças, fiquei a pensar...
Procuro ter opinião, mas peso muito bem todos os lados e, mesmo que no fim penda para um deles, gosto de escutar os dois lados da questão. E costumo escutar com muita atenção.
Se o convite do PSD é interesseiro ou é uma forma de abertura do partido à sociedade civil ou se abre uma nova linha política...Pois...Não sei.
Nem me interessa para chegar ao cerne desta questão: O Dr. Nobre desiluidiu-nos?
Sim, se o seu interesse converge com o que se supõe ser a intenção do PSD - ganhar votos e garantir a maioria na Assembleia da República. Sim, se o que o move é uma ambição de poder político real e o alcançar um lugar na casa da nossa democracia.
Por outro lado, o Dr. Fernando Nobre (que neste momento esta no Sirilanka ao serviço da AMI), tem todo o direito de alinhar com um partido e não se torna por isso menos digno, ou fica nesse gesto, corrompido.
Os partidos políticos são absolutamente necessários à nossa democracia e ninguém se iluda que funcionaríamos sem eles - a sustentar o governo e a fazer uma oposição responsável e de contrapeso ao poder.
Se queremos mudar o país há de ser a partir dos mecanismos previstos na nossa Constituição e descartar os partidos e colocar o poder nas ruas nunca foi solução de futuro para país nenhum. Devem existir estruturas organizadas e coerentes com uma ideologia conhecida e transparente.
Se os partidos disponíveis já não servem o interesse da nação, revogam-se, desapoiam-se e eles se extinguem de forma natural. E fundam-se outros.
Ou reformam-se os existentes.
E as reformas só são possíveis pelo nossa exigência expressa no nosso voto ou partir de dentro deles.
Pode ser esta a ideia? Pode.
Eu, desalinhada por natureza, não optaria por essa via, mas entendo-a como válida por quem entende segui-la.
Pode o Dr. Fernando Nobre, a partir do exercício como segunda figura do Estado, ter uma magistratura de influência e finalmente chegar a ter algum espaço de manobra para dar um contributo válido ao seu país, já que não o conseguiu por via das últimas eleições?
Pode. Mas não será fácil.
Pessoalmente, preferiria tê-lo visto fundar uma nova força política ou partido.
Mas, sinceramente, espero vir ser surpreendida pela positiva...