"Quando copiares tipos de beleza, ser-te-á tão difícil encontrares o modelo perfeito, que terás que combinar os detalhes mais perfeitos de vários modelos e só assim alcançarás a beleza do conjunto"
Xenofonte, 430 -355 a.C
Esta magnífica escultura saída da mão de génio de Alves dos Reis (1847-1889), reúne um grau de excelência e perfeição que, mesmo passados mais de dois mil anos sobre as instruções de Xenofonte aos artistas atenienses, consegue captar-lhe a essência...
E atinge-se, quanto a mim, em Portugal a perfeição sonhada pelos clássicos numa época em que a nação, tal como agora, deprimia-se.
Reuniu, certamente, a inspiração colhida em diferentes modelos, porque a perfeição, presume-se, é impossível ser encontrada num homem só. Só como comunidade a podemos "aspirar", lembrara I.Kant, no século anterior.
Esta manifestação romântica de inspiração clássica retrata plasticamente sentimentos que fazem jus ao seu baptismo:" O Desterrado" (1872).
O jovem melancólico, de tronco torcido, sentado na rocha batida pelas ondas, invoca sentimentos ambíguos em quem a observa...
Tristeza? Reflexão? Saudade? Espera?
Cada um a sentirá como sua e verá que sentimentos lhe ocorrem...É sempre um exercício pessoal.
Nas duas vezes que a visitei, dando-lhe voltas para melhor a captar, juraria que pude observar o movimento das suas costelas numa discreta e ténue expiração...O mármore pareceu ganhar vida. Foi mágico.
Será esta perfeição estética idealizada pelos gregos e pelo seu antropocentrismo transformador? A arte assim expressa ajudaria à inspiração para a construção do novo homem - medida de todas as coisas e capaz de pensar um viver diferente?
Acho muito interessante como a arte que imita a vida, também a pretende transformar e é ao tempo veículo de coesão social e base de entendimento entre povos e gerações diferentes ou muito separadas no tempo.
É possível por fim conferir como a arte que repete e renova este espírito de procura da estética perfeita ou da estética que melhor incorpore a sua época, a sua identidade ou a sua mensagem, ressurja ciclicamente tentando recolocar o ser humano no centro da sua linguagem transformadora.
Convenhamos, haverá temática mais fascinante?
Nota: Já que falamos em arte e porque penso passar por lá nos próximos dias deixo a sugestão: retratos do controverso fotógrafo Erwin Olaf que estão em exposição em Montemor-o-Novo. Refrescante e menos polémico que o habitual. Quem se interessar:
http://www.ionline.pt/conteudo/17069-em-que-quadro-e-que-eu-ja-vi-esta-fotografia