- Afinal porque é que fazes meditação?
- Tento fazer, queres dizer?
A conversa começou assim, entre colegas.
Apesar de animada, estava com alguma dificuldade na construção da argumentação, porque convenhamos, a meditação (ou o yoga que também pratico) preferencialmente não se explica, não se coage a fazer, nem sequer se pode fomentar muito insistentemente junto de alguém - é algo que se explica (auto-explica), se percebe, se sente, fazendo...
E é preciso querer experimentar e estar disponível para aprender e praticar. E ter abertura de espírito para começar esta caminhada.
Lá procurei as palavras, as razões, os benefícios, a paz que entra e flui em nós, mas o olhar continuava pouco convencido e inquisitivo, perguntando por algo tangível...
Ao contrário de mim que, passo a passo, procuro ter certezas e ouço as razões alheias, ia respondendo à "artilharia" e reflectia, pelo menos os benefícios desta prática, na calma com que aguentei toda uma argumentação que pouco faltou para me taxar de ingénua...
Pois é exactamente essa aprendizagem, essa relativização e essa serenidade que nos trazem essas práticas: Aguentar e acomodar dentro de nós a alegria e a tristeza, a simpatia e a hostilidade e os momentos de confronto, como oportunidades de crescimento - nosso e dos outros.
Por isso fui à minha biblioteca ambulante (meu carro, como sabem..) buscar um livro inspirado e dispus-me a citá-lo e a emprestá-lo, mesmo que à partida, não houvesse interesse aparente em aprofundar conhecimentos ou perceber o meu testemunho, mas apenas, parece-me, em confrontar alguém ou reiterar algum tipo de preconceito sobre estas ou outras práticas semelhantes.
Foram estas as citações que escolhi (do psicólogo e investigador Jon Kabat-Zinn) como forma de fundamentar esta escolha que me tem ajudado tanto e cuja caminho ainda ando a desbravar:
"Praticar formalmente a meditação, encontrando algum tempo para ela todos os dias, não significa que não se será mais capaz de pensar, ou que não se pode andar de um lado para o outro ou fazer as coisas que há para fazer. Significa que se será mais capaz de saber o que está a fazer porque parou por um bocadinho e observou, ouviu, percebeu"
Significa, portanto, que estou "presente" na minha vida, pelo menos presente em pleno, durante alguns minutos por dia.
Significa que ao parar, ao fazer silêncio dentro de mim, ao deixar que minha mente se ocupe apenas de respirar estar consciente desse exercício, tudo aquilo que o dia acumula e recalca dentro de mim e que me condiciona e quase me "automatiza" na resposta, pode ser interrompido e, talvez, me permita pensar sem pressões, sem querer controlar, permitindo que cada momento seja apenas o que é e, com sorte, chegar aqui, como refere o autor:
"Depois quando estiver preparado, consciente,
mova-se na direcção que o seu coração lhe disser para ir"
E acertar, e ter mais calma na escolha, digo eu!
Comigo tem resultado e apurado a minha intuição.
Bem falta me faz ;)