Alexandre O’Neill, no seu longo poema AUTOCRÍTICA , 1965, escreve a um dado momento:
A poesia é a vida? Pois claro!
Conforme a vida que se tem o verso vem
- e se a vida é vidinha, já não há poesia
que resista….
Há dias escutei alguém retorquir que o que eu dissera ficava bem nas páginas de um livro...Como se as verdades que vamos percebendo e acumulando a duras penas e vivências, não fossem por isso mesmo - porque se imprimem em nós - quase poéticas e impactantes porque as sentimos eternas. E são-no porque fizeram eco aqui por dentro, onde tudo toma outro sentido e se encaixa em nós na perfeição. E então surge essa necessidade de partilhar, particularmente com quem não as quer ouvir e precisa...Hoje.
Mais, são verdades - por estas ou por outras palavras menos poéticas. Daquelas incontornáveis que mesmo não se querendo hão de ouvir-se, senão de nós, da vida, da boca de alguém e provavelmente com palavras menos bonitas...
Sim aceito, é possível não usá-las, podemos só acumular dias e experiências, ir vivendo e, provavelmente, repetindo erros, pessoas e circunstâncias e nunca nos permitir recorrer a estas supostas "frases-feitas" ou máximas...
Mas o certo é que elas batem cá dentro e são realmente úteis e inspiradoras. E mais acredito que, uma vez interiorizadas, podem servir de orientação e bússola para o caminho em dias que o nosso raciocínio não produz respostas, nem coerência...E será útil ainda lembrar que os outros, os que as fixaram em palavras e papel, também as viveram na carne...
Podemos viver a vida como disse O´Neill como se ela fosse só "vidinha", sem lhe procurarmos uma dimensão maior e mais integrada num todo que, aceitemos ou não, não se domina na totalidade. Ou fazemos de conta tudo é aleatório e desprovido de sentido...
Sim podemos ir tentando ignorá-las até ao dia em que nos hão de cair em cima...
Há coisas que não se explicam -vivem-se. E cada um na sua pele e ao seu ritmo -eu sei.
Mas custa ver tanta resistência e ficar caladinha...
Acredito profundamente que vida se faz com elevação todos os dias e com uma aposta sempre renovada em nos aperfeiçoarmos enquanto cá andarmos.
Se desistimos disso, se nos contaminamos e nos deixamos arrastar pela mediocridade, nunca perceberemos a profundidade e potencialidade que existe em nós ou sequer realizaremos a nossa singularidade irrepetível.
De facto, se não resistimos, se não mantemos os nossos olhos para cima, se não nos inspirarmos em frases poéticas que nos elevam o espírito, se não estamos centrados no que é importante...
Pois, assim, não há frases para livros, não há poesia...E a vida é mesmo só -"vidinha".