Parece simples, não?
Um abraço, um olhar que se demora uns segundos mais...
Faz toda a diferença.
A alteração do comportamento de alguém quando é finalmente escutado é algo que sempre me surpreendeu.
E é bem diferente do automatismo fisiológico que implica o "ouvir" simplesmente.
E aposto nisso todos os dias.
Têm passado pelas minhas mãos centenas de alunos e sendo certo que uns marcam mais e, consequentemente, deixam mais saudades do que outros, o certo é que consigo gostar e preocupar-me com todos por igual de cada vez que entro na sala de aulas e os olho nos olhos.
E continuo a perguntar-me apesar distância física que os anos acentuam, o que será feito deles ou como se terão desenvolvido algumas situações pendentes que, mal grado o esforço da escola (e meu em particular) não conseguimos solucionar no decorrer do ano lectivo.
E, por vezes, acordo à noite, lembro-me de um em particular e dou comigo a pensar se fiz tudo o que estava ao meu alcance para o ajudar (os ajudar)... Fiz tudo o que podia para orientar estes filhos que a vida coloca a meu cuidado?...
E sei que não fiz, não consegui -não conseguimos.
E tenho a certeza que os alunos esperam muito de nós para além da instrução que nunca descuidei.
E sinto que nos cruzamos na vida por alguma razão...E tento corresponder.
Os papéis, as burocracias, os programas curriculares, os problemas quotidianos, a vida em si mesma e as minhas limitações, não me deixaram chegar tão longe quanto deveria neste campo...
E pesa-me. E se voltasse atrás, faria melhor e daria mais atenção e remediaria um pouco mais...
E quando tenho os seus contactos procuro saber deles (correspondo-me com muitos) e continuo a perguntar pelas aulas, pelas doenças, pelos irmãos, pelos pais que não se entendem ou não conseguem trabalho...
E continuo a aconselhar quando é oportuno, ou simplesmente escuto e ajudo-os (tento ajudar) a pensar.
Sei que não conseguimos salvar a todos, sei que nem todos terão sucesso na vida ou sequer uma vida digna de ser vivida...
Este ano comprendi-o especialmente bem com uma turma PIEF ao meu cuidado (um dia falarei disto com pormenor...).
Mas tenho a certeza que, em algum dia, aula ou momento menos formal, eles se sentiram escutados por mim.
É muito pouco, eu sei ...
Mas também já li que quando alguém se sente escutado, existe.
Já é um bom princípio, não acham?