Sempre quis ser mãe.
Desde que me lembro, brincava de ser mãe, sonhava ser mãe.
Por isso, desde sempre soube o teu nome e sabia que um dia seria a tua mãe.
Desde criança e sempre que algo corria mal ou era claramente disfuncional, eu prometia a mim mesma que, um dia, eu seria diferente.
Eu faria de outra forma, eu cuidaria e escutaria os meus filhos de outra forma...
Podia não saber exactamente o que faria, ou como chegaria lá, mas sabia de certeza que coisas nunca faria.
Recordo-me-me de ir buscar o resultado do exame e de como me senti em estado de graça a partir daquele "positivo".
Lembro-me de todo o tempo da gravidez, do corpo que ia mudando, de sentir os teus primeiros movimentos cá dentro, de vivenciar o "milagre" da vida que crescia, de estar contigo tão próxima e acompanhada durante 9 meses, e de todas as conversas e planos que ia combinando contigo enquanto devorava gelados e pão com pickles...
Tu foste o meu primeiro filho e isso mudou a minha vida, alargando-a de uma forma que nunca mais ela pôde caber onde existia antes.
Lembro-me da tua pele, do teu cheiro...Mas principalmente dos teus olhos negros e enormes a olhar para mim.
Sim, olhaste para mim. E eu para ti. E abraçava-te, desejando que aquele abraço nunca se desfizesse.
E tudo foi intenso e quase diria, acima do mundo. Mágico.
O momento de volta à realidade só ocorreu quando te mudei a fralda pela primeira vez..
O momento ficou gravado em mim (conheces o episódio).
Ao olhar para ti, despido, borrado e absolutamente indefeso...Percebi.
Percebi a imensa responsabilidade que recaíra sobre mim, percebi que era totalmente responsável por ti e que tu dependias de mim.
E chorei. Chorei muito e alto.
As enfermeiras e o teu pai não entendiam , nem conseguiam acalmar o meu choro.
A emoção era gigantesca para que eu a pudesse conter dentro de mim. E eu deixei que saísse.
Depois, assumi por inteiro, tratei de ti naquele dia e até hoje, e pretendo levar este compromisso até ao dia da minha morte. Sem intervalos.
Prometi-o a ti e a mim naquele dia e entreguei-te o meu coração.
E continuo a fazê-lo, mesmo hoje que cumpres 25 anos. Cuido de ti e faço-o com o coração aberto e sempre pensando em ti e nas tuas necessidades primeiro.
Também naqueles dias em que não o reconheces.
Mesmo quando te disse não, e doendo-me o teu olhar, fi-lo porque acreditei que era o melhor para ti...
Para mim era infinitamente mais fácil (e se calhar melhor, que sei?) ter-me alheado, deixado correr e relaxado.
Mas e se comprometesses o teu futuro? Tens ideia, perante o que me foi dado viver, o pavor que sentia?
Podia ter sido mais tua "amiguinha" que tua mãe? Podia, mas eu tenho outras responsabilidades e outra experiência e actuo em função delas.
Para frases-feitas e para fazer coro, nunca tive jeito.
Ou para fazer de conta que não via...
Eu sou a tua mãe, actuo como tal, orgulho-me de o ser e orgulho-me de ti.
Olhando para ti, para a pessoa íntegra e talentosa que és, acredito que os acertos foram infinitamente maiores do que as falhas.
E sinto que estive à altura da promessa que te fiz há 25 anos na maternidade.
Lembras-me, cobras-me por excessos, e sinto que tens alguma razão, mas ser mãe por inteiro é tarefa difícil de dosear...
Um dia contas-me.
Entretanto...Parabéns meu filho!