A Patrícia foi minha aluna há dois anos, no 11º ano, e tem hoje 17 anos.
Descrevendo-a assim, parece uma jovem como tantas outras que passam pelas minha mãos em cada ano.
Mas não é.
E não é por muitas e diferentes razões: pela coragem, pelo espírito inquieto, empreendedor e particularmente auto-didacta que revela e pratica.
A Patrícia lê, aprende, escreve e fala sempre de forma sincera procurando melhorar-se e avançar na vida. E eu vejo isso.
A Patrícia não é de sorriso fácil (terá as suas razões) nem de muitos entusiasmos, na verdade tem uma postura e um olhar perscrutor, sedento de aprendizagem e uma atitude invariavelmente atenta.
A Patrícia é quase demasiado madura para a idade e carrega um peso enorme para a sua ainda curta vida...E tem razões para isso, a vida não lhe foi fácil, pelo contrário tocou-lhe viver circunstâncias familiares difíceis e que são mais um lastro do que uma boa base para iniciar a vida ...
Mas ela não desanimou, e da dificuldade vai sabendo fazer uma oportunidade e nas contrariedades encontra desafios que vai superando...E consegue nesse exercício mostrar como alguém tão novo possui uma sabedoria que muitos não conseguem acumular apesar das múltiplas lições e oportunidades quer recebem na vida.
E ninguém a ensinou a ser como é.
Neste mês, tal como havia combinado com as minhas alunas fui assistir à suas defesas de estágio e apresentações finais (Prova de Aptidão Pedagógica - PAP), à Patrícia especialmente prometera não faltar.
Lá estava ela ao fundo do corredor a correr para mim com os braços estendidos e o sorriso aberto, mas nervoso. E estava mesmo intranquila e a sua pele não o negava, salpicada que estava de manchas vermelhas e coberta de suores frios. Todas as professoras e amigas tentámos que se acalmasse. Em vão.
A responsabilidade era demasiado alta.
Tal como prometido mantive-me muito próxima e atenta e ela começou a falar...Apesar do tom hesitante, foi desenvolvendo a sua apresentação e a respirar ora fundo, ora ofegantemente, entre frase e slides...Até que a sua voz sumiu e o silêncio instalou-se.
Percebeu-se que a voz da Patrícia embargara, travara, e a sua cor mudara.
Em segundos caiu desamparada no chão de madeira e um tremendo susto toma conta de todos.
Por estar mais perto cheguei antes e virei-a de lado, a sua directora de turma em segundos estava ao nosso lado e abria janelas procurando que a Patrícia desse sinais de si.
Ela voltou, pálida e um pouco desorientada, mas com os seus grandes olhos abertos e, se bem a conheço, já procurar a forma de reverter aquela partida que o seu organismo lhe pregara. E nunca com pena de si mesma, porque a Patrícia tem um sentido de lutadora, não de vítima.
Algumas professoras e próprio júri propuseram que ela desse por terminada a apresentação, pelas circunstâncias e porque já demosntrara que dominava o tema.
Em silêncio procurei os seus olhos (em tempos de crise, e sendo desnecessário,gosto de observar mais e falar menos...) e percebendo a situação e o seu sentir, perguntei-lhe o que queria fazer, ela entendeu e respondeu:
- "Quero continuar, claro, setora, já sabe."
Claro que eu sabia, a Patrícia nunca se iria perdoar se desistisse a meio, fossem quais fossem as circunstâncias. Por isso nunca lhe propus terminar antes do tempo.
Ela leva qualquer desafio até ao fim e com dignidade.
Eu conheço a força daquela alma.
A apresentação ganhou ritmo lentamente para terminar com a sua voz forte e consistente e o seu sorriso de alívio e orgulho.
Todos os presentes na sala reconheceram a sua atitude e a sua força, era impossível não o fazer.
Ainda bem que as novas gerações mostram esta força e esta determinação e nem todos estão acomodados.
Menos ainda os que têm mesmo que lutar a dobrar.
Deus abençoe e conserve essa força da Patrícia ;)
É um gosto ter sido tua professora e agora tua amiga.
Estou atenta.