A partir deste pequeno filme do youtube cheguei a este blog:
Nos últimos dias tenho passado por centenas (milhares?) deles.
É impossível, mesmo para alguém não-alinhada (mas religiosa) como eu, não se comover com esse movimento de fé que passa por mim nas bermas, ladeando o meu caminho diário...
Procuro observá-los com calma e atenção, sempre que lhes cedo a passagem num cruzamento, ou na paragem de um semáforo...
Todos avançam convictos.
Uns sorridentes e faladores, outros agitados e com passos fortes, outros silenciosos e contemplativos, outros coxeiam e alguns arrastam-se e "forçam-se" ao limite, literalmente.
Ontem passei por um peregrino que carregava (arrastava?) uma grande cruz e abrandei um pouco apenas para o poder observar melhor...
E dei comigo a questionar o que nos diria Jesus sobre este tipo de peregrinação e evidente sacrifício físico e psicológico.
Eu que me considero uma leitora atenta da Bíblia, não encontro lá o indício ou a justificação para isto, muito menos o encontro nas palavras dele. As propostas que nos deixou indicam outras formas de investir e viver a nossa fé (e energias) e sempre em função do outro e por causa do outro, como se de nós mesmos se tratasse.
E convida-nos à prática e ao semear dessa filosofia, principalmente pelo exemplo concreto...
No fundo propõe-nos um sentir de enorme comunhão e
alteridade com os outros.
E não nos pede, acredito, outro sacrifício para além do domínio dos sentimentos que nos diminuem...
Mesmo estando longe de mim desvalorizar estas caminhadas absolutamente pessoais e notoriamente difíceis, mesmo sabendo que muitos (se não todos) terão fortes e nobres (tristes?) razões para estar na estrada nestes dias, ocorre-me questionar se no fundo, toda esta energia despendida não daria mais frutos ao serviço de algo mais concreto ou de alguém que carece de apoio.
Será que temos mesmo que pagar em forma de sacrifício físico uma benção recebida ou pedida?
O reino dos céus parece-se tanto já com este nosso mundo onde tudo parece ter o seu preço, e portanto, há que garantir o "negócio"?
Ou dão graças por meio do sofrimento? E isso agrada e agradece a Deus, porquê?
E porque acreditarão estas pessoas estar no caminho certo? Conhecem estes crentes a palavra de Jesus?
Estarão elas em sintonia com a proposta, tão sensata, de peregrinação do filme acima?
Esta peregrinação é transformadora da sua alma, ou retomam, no fim, a vida de sempre?
Às vezes tenho vontade de parar e saber das suas razões.
Entretanto apenas desejo do fundo meu coração que a jornada lhes seja leve e, uma vez concluída, encontrem mesmo o que procuram (precisam?).
E que Deus os abençoe. Parecem precisar.