O Início e o fim de cada um meus dias acontecem, ocorrem, no meu velho carrinho.
De manhã, 7:10h, já estou a caminho.
Começo o dia com energia, confiante que tudo vai correr melhor que ontem e que vou dar conta do recado, ainda que pouco predisposta a falar antes do meu incontornável café.
Gosto de me levantar cedo, mesmo admitindo que, no inverno, o mundo frio escuro que observo da janela que abro, não parece nada acolhedor. Apesar de tudo, gosto mesmo do cheiro das manhãs e da frescura que tudo parece adquirir sob a luminosidade de um dia que começa.
Sinto o mesmo em dias acinzentados e chuvosos: cada dia é mesmo novo e vem cheio de possibilidades...
Até o meu velho carrinho, cheio de livros, companheiro de km, reflexões e longas viagens na minha vida, cheira a fresco, como que preparado para um novo dia. Gosto de entrar, ligar a TSF, escutar as notíciase ajeitar-me no conforto que os bancos e o volante, já moldados por mim e pelo meu uso, parecem sempre prontos a proporcionar-me.
Sei que não é bem assim, mas esta familiaridade e este "acolhimento" material, ajudam-me a que, no meu carro, me sinta segura e em casa ;)
No fim do dia, ainda que eu e o carro sejamos os mesmos, estamos mais cansados e cheios de pressas para voltar para casa. É estranho, mas o carro também me parece outro, o espaço que de manhã transbordava de energia, agora acolhe-me menos vibrante e, até a TSF me parece mais lenta, como que a reduzir a velocidade...
Às vezes faço as viagens acompanhada, partilhando boleias com colegas, como é prática corrente. Mas a maioria das vezes, regresso sozinha.
É nessa altura que coloco os meus CDs e, agradecida pelo silêncio que me proporciona esta jornada solitária, somo e reflicto sobre o que o dia me trouxe.
É um espaço e um tempo só meus, onde posso cantar alto e desafinado, pensar muito e até chorar se precisar.
Às vezes também acontece.