“É preciso uma escola onde o SABER e o SENTIR,
onde CONHECIMENTOS,TRABALHO e SENTIMENTOS andem de mãos dadas.”
Volto esta semana ao contacto directo com os alunos.
Este é sempre um tempo fervilhante de expectativa e apreensão para mim.
Na passada semana já me foram entregues as fotografias e outros documentos de caracterização das turmas ao meu cargo (7 com 25 alunos cada !) e já fiz uma primeira avaliação e tento, neste momento, pensar a orientação a dar às primeiras aulas.
Sempre que recebo as fotografias dos meus futuros alunos nas reuniões de preparação do ano lectivo, gosto de as olhar demoradamente...Gosto de chegar a casa e espalhar na mesa, aquela série de carinhas de "novos filhos" que a vida me entrega e tentar perceber quais vão ser aqueles que mais vão precisar de mim.
Normalmente "percebo-os". Normalmente o diagnóstico inicial que me é transmitido na escola é acertado e constrói um "mapa" que me permite orientar o meu trabalho com aquela criança (caso deste ano - Ensino Básico). Outras vezes, o aluno/a consegue distanciar-se daquele diagnóstico e crescer tanto que não se reconhece a criança da avaliação inicial.
É como respondi há alguns anos a um aluno cuja caracterizaçãoo problemática (retenções, suspensões...) já conhecia, que tinha um palmo a mais do que eu e que, no dia da apresentação, olhou de forma desafiadora e irónica para mim dizendo:
- "Quem sou eu? Sou o Pipo e já deve ter ouvido falar mal de mim!"
Era verdade, já ouvira e muito. Respirei fundo e respondi:
-"Sim já me chegou a tua caracterização/avaliação do ano anterior - frisei bem este pormenor, mudando o tom de voz - e conheço-a. Tens razão.
Mas também te digo que hoje colocamos o conta-quilómetros a zero e estás muito a tempo de mudar o teu percurso e avançares na vida.
Comigo a folha da tua avaliação está em branco".
Riu-se, mexeu-se nervosamente e balbuciou algo que, confesso, não sei se foi uma resposta menos própria. Ignorei.
O certo é que este aluno (como tantos, felizmente) surpreendeu-me muito positivamente.
Ganhei-o para a disciplina e, nesse gesto, ganhei a turma.
Cresceu no seu desempenho escolar e como pessoa. Foi um aluno regular e empenhado, sempre que se entusiasmou um pouco mais era chamado à razão e acatou educadamente as minhas orientações. Nunca tivemos um problema e pude sempre contar com ele para me ajudar a ligar o data-show (já se sabe que sou péssima com as TIC!) ou mesmo para mandar calar outros mais truculentos.
É o que farei este ano também: todos os meus alunos estão a começar e se quiserem "avançar" e mudar positivamente, encontrarão nas minhas aulas o espaço para fazê-lo.
Às vezes só precisamos que acreditem em nós.
Nota: Cá vamos nós para o próximo ano cheios de cautelas:ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx