Qual é o caminho a escolher?
Quando alguns assuntos são resolvidos com tantas reservas, ficam sempre dentro de mim a "fermentar" todos os outros caminhos que se poderiam, também, ter escolhido...
No meu somatório diário, existem assuntos que considero resolvidos apenas dentro do "possível" e, portanto, ainda mexem comigo.
Explico melhor:
Lembram-se do meu aluno C.? Acredito que sim.
Pessoalmente e porque me sinto sempre responsável por todos os jovens que a vida coloca ao meu cuidado ( porque acredito que nada ocorre por acaso), levo muito tempo a desresponsabilizar-me deles.
Sei que não posso mudar tudo, ou todas as circunstâncias adversas que se cruzam no meu caminho, mas não me sinto descansada enquanto não tentar tudo o que estava ao meu alcance para alterar (ainda que apenas num ou dois aspectos) a situação encontrada.
Como sabem, o C. foi para uma escola profissional em Aveiro, já que os seus interesses eram absolutamente divergentes com a frequência das aulas ou da Escola Básica onde trabalho. É honesto acrescentar que a turma de onde ele saiu tem tido, no geral, uma evolução muito positiva no seu comportamento e, surpreendentemente, no seu aproveitamento.
O ambiente é outro.
É impossível dissociar esta evolução qualitativa da ausência do elemento perturbador e de mau exemplo que era o C....É verdade.
Mas, e tal como se previa, uma escola profissional a km de casa, onde o aluno de 16 anos estaria num quarto alugado por sua conta e risco, era a promessa de uma caminho tentador que o C. não estava preparado para abdicar.
O seu destino ficou traçado no momento em saiu da escola e da casa da mãe para Aveiro.
Resultado pouco surpreendente: O C. falta às aulas semanas seguidas, já usa drogas (ainda que ligeiras, mas para mim dá no mesmo) bebe o que lhe apetece e desaparece dias seguidos com companhias ainda piores que ele...
Existe algum futuro para ele? Acredito que só um milagre o salva da marginalidade.
No meio pequeno onde vivia, o C. era um mau exemplo, mas era possível monitorizá-lo quer pela escola, quer pela mãe....E digamos, continha-se o estrago.
Ou não, e estando o seu caminho traçado, a sua permanência na escola e na vila só servia para desencaminhar outros que ainda tinham um futuro.
Pois esse foi o discurso que todos usamos (eu incluída) para disfarçar o facto de que estávamos mais a "transferir" o problema para outros, porque no fundo sabemos como funcionam algumas escolas profissionais e qual é perfil dos alunos que a frequentam. Principalmente longe de casa.
Na verdade, todos sabiam que o C. não iria usar de forma positiva esta oportunidade, não ia aprender uma profissão que lhe garantisse um futuro, o que ia ocorrer (e ocorreu) era que ele ia aproveitar ao máximo essa nova liberdade e espaço alargado de manobra.
A questão que permanece é essa: Deixámos cair o C. em nome da salvação de outros (escolar e outra)?
Remoo esta situação porque considero que é dever da escola incluir e não deixar ninguém para trás. Acredito nisso e sei que se nós, na escola, desistimos de um jovem, ele provavelmente não terá mais ninguém que se ocupe de dele e lhe dê os bons exemplos que são fundamentais ao seu equilíbrio e saudável crescimento. Era o caso.
Pois, mas restam os outros, que querem trabalhar, estar atentos e a quem nós, comunidade educativa, temos que garantir as melhores condições de aprendizagem, e proteger dos exemplos negativos (ficou a dúvida se o C. não introduziu algum tipo de drogas na escola antes da sua transferência...).
Sei isso tudo, mas a dúvida permanece.
E um pequeno sentimento de culpa, também.