Segunda-feira, 21 de Dezembro de 2009

 

 

 

 

Natal...

 

  O clique estridente que ficou do telefone que bateu, até soou a alívio depois de escutar tanto destempero. Ela ficou ali, com o auscultador  na mão, a respirar fundo, parada..

O Natal, como sempre o sonhara, há quatro anos que a desilude...Três casas a visitar, um pai e uma mãe que a partir da separação cobram e dividem cada minuto da visita, familiares  que controlam, cobram e despejam frustrações como acontece em todas as festas onde o vinho e a euforia não são medidos.. Um marido que, incapaz de contrariar o mau exemplo do pai, usa jogar cartas no café em dia de Natal...

E uns filhos  encantadores e ansiosos à espera do Pai Natal e a necessitar de ser protegidos.

Encaixa pequenas camisolas e gorros em malas e sacos e vai cruzando entre a mente e o coração, acontecimentos, expectativas, palavras ditas e ouvidas, decepções e desencontros...

Triste, contrariada, mesmo percebendo que o esforço não seria percebido nem valorizado por ninguém, tem  por certo apenas a certeza de que  está emocionalmente pouco disponível e os seus filhos, apesar do entusiasmo simulado... o "sentiriam".. .

Arruma, mais uma vez  dentro de si, o desalento para melhor  simular o festejo. Socialmente é  isso que dela se esperava, e ela sempre cumpre...

E todas pessoas e postais lhe tinham desejado Feliz Natal?
 Parecem-lhe inúteis. Feliz?

Tudo limpo e arrumado, filhos arranjados, malas e prendas no carro e, apesar de nenhuma vontade, inicia o caminho de 169 km.

Só deseja que já fosse dia 26...

 

Ou...

Pousa o auscultador com a mesma calma e...esvazia as malas, desce a arruma na garagem o saco das prendas compradas por " imposição" social à espera da...Páscoa?

Pega novamente no telefone e informa que enquanto não existir respeito pelo tempo e privacidade de cada um, enquanto o Natal for apenas um ritual anual de acerto de contas e despejar de frustrações e discussões, não pretende participar com a sua família.

Cansou.

Avisa em casa que os meninos merecem um Natal de verdade, em que palavras como família,  harmonia e bom exemplo são mais do que enunciados que se repetem, desejam e se trocam socialmente, são para  praticar.

Quebra o ciclo vicioso e decide celebrar o Natal que os seus filhos merecem.

E que faz sentido.

As compras são rápidas, alguma comida, alguns ingredientes para duas sobremesas (ninguém necessita para ser feliz de comer 10 variedades de carne e doces...) e a árvore, que iria ficar apagada durante os três dias de ausência, iluminada.

E com um presente para cada um.

Jantam na sala, depois lêem um conto, não um qualquer - o de Dickens: "Conto de uma Noite de Natal" 

Procura ainda ter tempo para falar daquele menino nascido há mais de 2000 anos, que mudara o mundo com a sua inteligência e bondade e que dá significado a esta quadra, fazendo-os perceber a substância desta festa de família, não de consumo ou rituais vazios...

Debaixo do edredão ainda haverá tempo para rirem muito, bem abraçadinhos, com o "Sozinho em casa" .  Mais uma vez  ;)

Adormecem na sala  todos juntos, aninhados e quentinhos e ela olha para eles e agradece àquele mesmo menino, tudo e tanto.

E todos guardam no coração este Natal.

 

Às vezes sabemos o caminho, mas, no final falta mesmo a decisão de o percorrer.

E o tempo não volta, nem a infância se recupera.

 

 

 



publicado por Marta M às 00:10
O tempo não volta, nem a infância se recupera.

Penso que esta é daquelas frases que se encaixa em qualquer idade.

Penso que , devemos conseguir ir vivendo, por forma a um dia não nos parecer que deixámos passar o tempo e que o não soubemos "bem" viver!
Augusto Küttner a 22 de Dezembro de 2009 às 23:06

Augusto:
Acredito que não haverá ninguém que não tenha experimentado esse sentimento absolutamente inútil "não ter vivido".
Sabe, a cada dia isso me preocupa mais...E apetece-me contrariá-lo.
Vamos ver se encontro essa sabedoria de saber viver "bem" tudo o que puder.
Bom e Santo Natal para si.
Obrigada pela visita ;)
Marta M a 23 de Dezembro de 2009 às 22:04

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Vejo o mundo, somo o que me acontece, vejo os outros, as minhas circunstâncias....Escolho caminhos e vou tentando ver o "lugar" dos outros
Afinal quem penso que sou..
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