Terça-feira, 01 de Fevereiro de 2011

 

Parece simples, não?

Um abraço, um olhar que se demora uns segundos mais...

Faz toda a diferença.

A alteração do comportamento de alguém  quando é finalmente escutado é algo que sempre me surpreendeu.

E é bem diferente do automatismo fisiológico que implica o "ouvir" simplesmente.

E aposto nisso todos os dias.

Têm passado pelas minhas mãos centenas de alunos e sendo certo que uns marcam mais e, consequentemente, deixam mais saudades do que outros, o certo é que consigo gostar e preocupar-me com todos por igual de cada vez que entro na sala de aulas e os olho nos olhos.

 E continuo a perguntar-me apesar distância física que os anos acentuam, o que será feito deles ou como se terão desenvolvido algumas situações pendentes que, mal grado o esforço da escola (e meu em particular) não conseguimos solucionar no decorrer do ano lectivo.

E, por vezes, acordo à noite, lembro-me de um em particular e dou comigo a pensar se fiz tudo o que estava ao meu alcance para o ajudar (os ajudar)... Fiz tudo o que podia para orientar estes filhos que a vida coloca a meu cuidado?...

E sei que não fiz, não consegui -não conseguimos.

E tenho a certeza que os alunos esperam muito de nós para além da instrução que nunca descuidei.

E sinto que nos cruzamos na vida por alguma razão...E tento corresponder.

Os papéis, as burocracias, os programas curriculares, os problemas quotidianos, a vida em si mesma e as minhas limitações, não me deixaram chegar tão longe quanto deveria neste campo...

E pesa-me. E se voltasse atrás, faria melhor e daria mais atenção e remediaria um pouco mais...

E quando tenho os seus contactos procuro saber deles (correspondo-me com muitos) e continuo a perguntar pelas aulas, pelas doenças, pelos irmãos, pelos pais que não se  entendem ou não conseguem trabalho...

E continuo a aconselhar quando é oportuno, ou simplesmente escuto e ajudo-os (tento ajudar) a pensar.

Sei que não conseguimos salvar a todos, sei que nem todos terão sucesso na vida ou sequer uma vida digna de ser vivida...

Este ano comprendi-o especialmente bem com uma turma PIEF ao meu cuidado (um dia falarei disto com pormenor...).

Mas tenho a certeza que, em algum dia, aula ou momento menos formal, eles se sentiram escutados por mim.

É muito pouco, eu sei ...

  Mas também já li que quando alguém se sente escutado, existe.

 

Já é um bom princípio, não acham? 

 

 



publicado por Marta M às 17:41
Marta
Já não é a primeira vez que por aqui passo e que penso "quem me dera ter tido assim uma professora".
Como aluna do ensino público tenho a recordar uma escola preparatória que funcionava como uma extensão da minha família e uma escola secundária em que os professores exerciam uma profissão sem gosto nem entusiasmo, falando o estritamente necessário sem qualquer vontade para nos ouvir.
Parabéns pelo método, pela perseverança, pelo mérito, pelo coração imenso e pela generosa alma. Um exemplo a seguir!
teoriasdacosta a 1 de Fevereiro de 2011 às 22:09

Paula:
Espero estar à altura destas suas palavras.
Faço por isso, mas há dias quem não chego onde quero.
Quanto aos seus professores do secundário..
Pois foi mesmo azar, porque há realmente muita gente boa entre os professores.Enfim.
Percebo-a, claro.
Abraço e obrigada pela visita.
Marta M
Marta M a 9 de Fevereiro de 2011 às 21:19

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Vejo o mundo, somo o que me acontece, vejo os outros, as minhas circunstâncias....Escolho caminhos e vou tentando ver o "lugar" dos outros
Afinal quem penso que sou..
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