Sábado, 20 de Outubro de 2012

Preocupa-me sobremaneira estas notícias que a crise (já não suporto a palavra) também nos traz.

 Os jornalistas do "Público" cumpriram um dia de paralisação contra o despedimento colectivo de 48 trabalhadores:

"Para lá da injustiça que representa para os trabalhadores, o despedimento colectivo comprometerá irreversivelmente a continuidade do Público como um jornal de referência", refere a notícia.

É exactamente assim, uma imprensa livre e de referência pressupõe uma imprensa independente de interesses, de partidos ou credos religiosos.

Ou de financiadores directos...

Uma imprensa livre que investiga, mostra, conta, expõe, denuncia interesses e informa o cidadão - é um garante de qualquer democracia saudável.

independência económica é vital para o acima enunciado se concretize -  E nada se faz sem financiamento, já se sabe...

Mais, diria até que uma imprensa livre, isenta e atenta foi sempre vital para a denúncia de abusos, para o esclarecimento do cidadão comum e para a formação de uma opinião mais esclarecida de todos nós.

Quantas vezes não foram os Jornais que impediram maiores abusos da classe dirigente ou do grande capital?

 E todos usufruímos desse trabalho de investigação e divulgação da verdade, não foi?

Já para não lembrar que foram também os jornais que  nos ajudaram a resistir contra a tirania, como tantas vezes aconteceu no passado não tão recuado do nosso país...Não era em vão que os Jornais eram censurados com o famoso lápis azul da PIDE que, no gesto persecutório, lhe reconheciam a  importância social.

Dito isto, lembro também que a grande fonte de financiamento dos jornais é a publicidade e, como se sabe neste momento, ela está muito, muito reduzida. As empresas procuram sobreviver e a publicidade tem sido sacrificada como se vê por aí.

Por isso e quando tantos se perguntam de que forma podem contribuir para a mudança de paradigma do país e para a saúde da nossa depauperada democracia, e entendem que manifestações ou protestos colectivos ou privados não estão na sua natureza, atrevo-me a fazer uma proposta: De vez em quando, mesmo neste período de contenção para todos, comprem um jornal uma ou duas vezes por semana. Serão apenas 1€ ou 2 €, mas para a tiragem do jornal fará alguma diferença e eles poderão continuar a existir como até aqui - com isenção e sem dependência directa de quem os financie e, portanto, os condicione...

Para que a verdade tenha sempre um espaço livre  e acessível a todos, há que dar da nossa parte, se possível, este pequeno contributo.

 No final, todos os contributos contam.



publicado por Marta M às 22:21
Sábado, 06 de Outubro de 2012
 

Como foi que a minha ida à Manifestação do "Terreiro do Povo" e a passagem pela Fundação Saramago se relaciona com o livro acima e com o simpático e educado casal de idosos que se cruzou comigo numa das livrarias da cidade esta semana?

Pois, porque para além desta minha veia profissional de historiadora, em que tu tudo se relaciona e interage num todo que me parece orquestrado e coerente, gosto de observar e encontrar pontos comuns...Sincronidades, numa palavra.

Em Lisboa o Autocarro estacionou muito próximo da Fundação Saramago e, pela primeira vez, consegui aproximar-me daquela Oliveira centenária onde foram depositadas as cinzas do meu querido José Saramago. Com um respeito profundo que nem o barulho nem os transeuntes conseguiram diminuir, deixem-me estar por ali...No chão a frase dele - absolutamente eloquente sobre o sentimento que a morte lhe suscitava:

"Mas não subiu aos céus, se à terra pertencia."

E fiquei a pensar para mim que, de certa forma, a eternidade também passava por ali, por aquela oliveira e pelas cinzas que agora também a alimentavam e faziam parte dela e de todos aqueles novos ramos e folhas... Saramago ressurgia da terra e se tornava vida novamente, desta vez como folha, como fruto que alimentava os pássaros que por passavam e que o levariam a outras paragens dentro dos seus estômagos.

Assim, ele que era um ateu convicto, mesmo não subindo às nuvens (nem ao ceú celestial) atingira a eternidade e retomava o ciclo da vida sob outra forma.

 Poucos dias depois, numa livraria da cidade, à procura de um livro para a minha filha, reparo neles: Um casal já muito idoso que falava entre si e remexia as prateleiras de livros com um gesto cuidado e notoriamente pouco habituado àqueles ambientes.

Não intervi (embora me apetecesse muito), mas percebi que algo importante se passava ali e fiquei por perto...

Algum tempo passado escutei o suspiro excitado e discreto: "É este, e!" - Disse ela.

Foram os dois para a caixa e, porta-moedas em punho, procuraram a nota e os trocos bem contadinhos. O livro pousado no balcão, foi embrulhado sob o olhar fervoroso e claramente entusiasmado dos dois. Pareciam ter descoberto um tesouro...

O livro em questão, um dos mais vendidos neste ano, reproduz a experiência relatada de uma criança que, em paragem cardíaca, terá visitado o Céu, contactado com Jesus e com familiares já falecidos (e desconhecidos dele) e retomado à vida com uma missão de partilha e esperança. O título é muito elucidativo da mensagem de confirmação que veicula.

Eram os dois mais idosos que Saramago à data da sua morte e, provavelmente, muito menos cépticos. Certamente procuravam um caminho, uma pista, uma confirmação das suas crenças e da suas expectativas nesta fase das suas vidas.

Pareciam, tal como Saramago com a sua oliveira, tê-la encontrado neste livro que alguém lhes recomendara.

Mostravam genuíno entusiasmo e pareciam felizes …

Ainda bem, ainda bem que, em assuntos tão profundos e que inquietam o nosso coração, nos são permitidas tantas propostas de resposta.

À medida do que somos capazes de entender...

 E aceitar.

 

 

 



publicado por Marta M às 18:40
Vejo o mundo, somo o que me acontece, vejo os outros, as minhas circunstâncias....Escolho caminhos e vou tentando ver o "lugar" dos outros
Afinal quem penso que sou..
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As imagens que ilustram alguns posts resultam de pesquisas no google, se existir algum direito sobre elas, por favor,faça-me saber. Obrigada.
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