Esta semana, tenho tido imensos "remakes" da infância dos meus filhos...
Ou porque tenho recordado, reconstruído e falado dos felizes tempos do colégio com eles, a propósito da partida da querida Isabel, ou porque nos apetece sempre voltar ao lugar e ao tempo em fomos felizes.
Ou pelo menos falar deles...
Na mesma linha, falámos de Walt Disney que é, também, um marco na nossa vida e na infância dos meus filhos.
Quer pelas canções que sei (sabemos) de cor e cantei ao longo de anos com eles, quer pelo encantamento que nos produz, seja qual for a nossa idade...
São do filme "A Branca de Neve e os Sete Anões" as minhas primeiras recordações de estar sentada no cinema com a minha tia Gina e os meus primos (ainda consigo sentir dentro de mim o sabor das gomas que dividia com a minha prima Liza).
Foi também com Disney que retomei as minhas idas ao cinema, depois de anos afastada porque os meus filhos não podiam ir comigo.
Com eles, quando já tinham tamanho para se sentarem nas cadeiras, voltei a desfrutar dessa arte que desde sempre me encantou.
Lá estávamos quando podíamos, a assistir abraçadinhos, os quatro.
Magia é a palavra que melhor descreve os momentos que passámos juntos (o antes, o depois e todo o cerimonial de preparação para irmos ao cinema incluídos) e o encantamento que era vir para casa no carro a cantarolar as músicas que já haviam ficado no ouvido...
A propósito da infância, e numa semana em que ela esteve em permanente evocação cá em casa, deixo aqui esta curta-metragem, que reúne dois génios (embora, para mim, Walt seja supremo) Salvador Dali e Walt Disney, numa parceria iniciada em 1945, abandonada uns meses depois por questões financeiras e retomada e terminada 58 anos depois, quando ambos os protagonistas, infelizmente, já não puderam assistir.
O filme, Destino, tem seis minutos do surrealismo e do traço (às vezes endurecido) de Dali e a magia e a classe de Disney, combinados com mestria na sua aparente contradição (?) e que se fundem de uma forma surpreendente....
Uma jovem dança através de paisagens surreais, como se viajasse no tempo, ou nos diferentes cenários da sua vida...
À procura do amor.
E tudo ao som daquelas baladas tão típicas da década de 5o, que apetece dançar.
Desfrutem, para mim que procurava o filme Fantasia (combinação única entre a magia de Disney e a música clássica), soube-me bem encontrar este pequeno filme inédito, pelo menos para mim.
Um luxo visual.
;)
(Imagem perfeita - Aqui)
Quando a conheci já sabia que ia entregar a minha filha (na altura até por um mês, os meus dois filhos) ao seu cuidado e critério.
Eu estava apreensiva (como em todas as situações em que tive que entregar os meus filhos ao cuidado de alguém - sempre fui muito excessiva nesse ponto...) e ela..sorria.
E continuou a sorrir, sempre que estivemos juntas, nestes últimos 20 anos, apesar de tudo e das "montanhas" que lhe caíram em cima.
Existe exemplo de coragem e espírito positvo maiores do que o da Isabel? Acredito que sim, existirão outros, mas a esta vida e à forma digna como viveu e suportou a doença que a ameaçava há quase 10 anos, eu assisti e dou testemunho.
Anteontem a Isabel partiu, deixando em todos uma sensação de perda em tantos domínios que este post e a minha capacidade de descrever não farão certamente justiça.
O colégio voltou a reunir-se, alunos, ex-alunos, pais e avós juntaram-se (e reencontraram-se após distâncias de anos) para se despedirem dela. E unanimemente falou-se da sua vida e de como a Isabel marcara e criara laços com todas as crianças (e pais) que passaram pela sua mão.
Os meus filhos (e acredito que muitos outros jovens que lá estiveram também) assistiram ontem ao seu primeiro funeral e isso marcou-os e fê-los pensar e...crescer.
A condição humana e o fim de ciclo da nossa vida, é algo a que temos que nos ir habituando e dando sentido desde muito jovens, infelizmente.
Ontem não consegui ir ao seu funeral, não havia quem me substituísse na escola, numa 6ªf, tão em cima da hora... Mas estive com ela no meu coração todo o dia e partilhei-o com os meus alunos e colegas...E hoje aqui com os meus amigos.
A Isabel era vital, responsável, positiva e sempre (não exagero) bem disposta. E tinha todas as razões e desculpas para não o ser.
Mas era, e nas conversas que fomos tendo ao longo de anos, sempre se mostrou aberta e generosa para com todos e com a vida, mesmo quando ela não lhe retribuía toda a sua entrega...
Quando lhe confiei os meus dois "tesouros" não conseguia afastar-me do colégio, primeiro sentei-me na escada junto à porta da sala da minha filha (ela, pequenina e assustada, de vez em quando, vinha verificar se eu lá esta, e claro, eu estava!) e depois no carro, olhando para o colégio e pensado se seria seguro ir trabalhar...
A Isabel com a sua imensa sensibilidade apercebeu-me muito cedo desta nossa "dificuldade", e com aquele seu jeito alegre e compreensivo, a cada dia fazia questão de relatar (detalhadamente) a evolução e a integração da minha filha:
- "Olhe, fique descansada, hoje a M. (usando desde cedo o diminutivo familiar da minha filha) já se chegou a mim e encostou-se às minhas pernas!"
E passadas duas semanas.
-" Hoje a M. quando eu estava sentada a contar a história da manhã, levantou o bracinho e abraçou-me pelo ombro"
Ela sabia como estas palavras me eram preciosas e tranquilizadoras.
Tenho uma dívida de gratidão para com a Isabel que não conseguirei nunca pagar, apenas posso falar do privilégio que foi conhecê-la, lidar com ela, e ter certeza que a minha filha não podia ter estado em melhores mãos. Nem tido melhor exemplo.
Tenho a certeza que a Isabel, onde estiver, é uma luz grande e brilhante, tal como sempre se mostrou nas festas do colégio, animando a todos, ensaiando coreografias de dança e ballet ou vestida de Pai Natal...
Por tudo e tanto, descansa em paz querida Isabel, a tua vida teve muito significado, tocou-nos a muitos, e tornou este mundo um lugar melhor.
Que mais se pode pedir?
Bem-Haja à vida por pessoas como ela.
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Nota curiosa:
A imagem apareceu-me na pesquisa do google em "educadoras" e, por uma daquelas coincidências inexplicáveis, surge esta imagem. A bata, o nome e até as feições, parecem-se incrivelmente com a Isabel....
E a conclusão: