Sexta-feira, 26 de Fevereiro de 2010

 

É hora de ir ao caminho?

 

Questiona-nos o portal do peregrino do Caminho de Santiago de Compostela.

E continua:

"O caminho de Santiago não é um desafio para super-heróis e sim para homens comuns. O caminho é o exercício vivo da condição humana.

É claro que estar em boa forma ajuda, mas o segredo, não é tanto chegar - é o caminho, feito ao nosso ritmo. E como na vida, depende do nosso passo...

Quando começar, todos os ventos jogarão a seu favor..."

O Caminho de Santiago - tema, por exemplo, do interpelante livro  O Diário de um Mago, de Paulo Coelho - é uma peregrinação de aproximadamente 830 km, que pode ser feita em um mês.

O seu relato desta viagem interior e exterior é contagiante na linguagem algo simples, mas poética, de Paulo Coelho. A descrição deste caminho por caminhos eternos (século I d.C) e dos encontros e desencontros que lhe vão surgindo a cada passo, permite visualizar (e desejar) estar ali, naquele percurso que surpreende de distintas formas.

E faz realmente crescer quem decide experimentá-lo.

Crentes, não crentes, católicos ou não, o caminho é mais espiritual que religioso...Todos podem encontrar a sua própria motivação para o empreender.

Gosto especialmente desta passagem que resulta de um diálogo com outro caminhante, a propósito da dificuldade (combate) de uma ou outra escalada mais sinuosa:

"O Bom Combate é aquele que é travado porque o nosso coração pede. Nas épocas heróicas, no tempo dos cavaleiros andantes, isto era fácil, havia muita terra para conquistar e muita coisa para fazer. Hoje em dia, porém, o mundo mudou muito, e o Bom Combate foi transportado dos campos de batalha para dentro de nós mesmos."

Toda esta literatura inspiradora e o outro tanto que já li sobre o depoimento de quem já fez o "caminho" fizeram decidir-me por percorrê-lo (ainda que de de forma abreviada) neste fim de semana, acompanhando uma visita de estudo que faríamos com os nossos alunos do 9º ano...

Pois...mas ontem, uma notícia desagradável caiu cá em casa e há que dar apoio a alguém querido e próximo, que se encontrou doente de uma forma algo séria e repentina, passando a precisar de mais atenção e carinho.

A caminhada (de carro, claro!) será para uma localidade mais próxima, mas será uma caminhada para expressar amor e cuidado.

Serve para crescer na alma e para mostrar solidariedade a quem a merece de forma inegável.

É, com certeza, também, uma peregrinação de amor.

E sim, é hora de ir ao caminho, ainda que não pelo percurso traçado antes...

Engraçada a vida.

 



publicado por Marta M às 21:43
Sábado, 20 de Fevereiro de 2010

Qual é o caminho a escolher?

 

 

 Quando alguns assuntos são resolvidos com tantas reservas, ficam sempre dentro de mim a "fermentar" todos os outros caminhos que se poderiam, também, ter escolhido...

No meu somatório diário, existem assuntos que considero resolvidos apenas dentro do "possível" e, portanto, ainda mexem comigo.

Explico melhor:

Lembram-se do meu aluno C.? Acredito que sim.

Pessoalmente e porque me sinto sempre responsável por todos os jovens que a vida coloca ao meu cuidado ( porque acredito que nada ocorre por acaso), levo muito tempo a desresponsabilizar-me deles.

Sei que não posso mudar tudo, ou todas as circunstâncias adversas que se cruzam no meu caminho, mas não me sinto descansada enquanto não tentar tudo o que estava ao meu alcance para alterar (ainda que apenas num ou dois aspectos) a situação encontrada.

Como sabem, o C. foi para uma escola profissional em Aveiro, já que os seus interesses eram absolutamente divergentes com a frequência das aulas ou da Escola Básica onde trabalho. É honesto acrescentar que a turma de onde ele saiu tem tido, no geral,  uma evolução muito positiva no seu comportamento e, surpreendentemente, no seu aproveitamento.

O ambiente é outro.

É impossível dissociar esta evolução qualitativa da ausência do elemento perturbador e de mau exemplo que era o C....É verdade.

Mas, e tal como se previa, uma escola profissional a km de casa, onde o aluno de 16 anos estaria num quarto alugado por sua conta e risco, era a promessa de uma caminho tentador que o C. não estava preparado para abdicar.

O seu destino ficou traçado no momento em saiu da escola e da casa da mãe para Aveiro.

Resultado pouco surpreendente: O C. falta às aulas semanas seguidas, já usa drogas (ainda que ligeiras, mas para mim dá no mesmo) bebe o que lhe apetece e desaparece dias seguidos com companhias ainda piores que ele...
Existe algum futuro para ele? Acredito que só um milagre o salva da marginalidade.

No meio pequeno onde vivia, o C. era um mau exemplo, mas era possível monitorizá-lo quer pela escola, quer pela mãe....E digamos, continha-se o estrago.

Ou não, e estando o seu caminho traçado, a sua permanência na escola e na vila só servia para desencaminhar outros que ainda tinham um futuro.

Pois esse foi o discurso que todos usamos (eu incluída) para disfarçar o facto de que estávamos mais a "transferir" o problema para outros, porque no fundo sabemos como funcionam algumas escolas profissionais e qual é perfil dos alunos que a frequentam. Principalmente longe de casa.

Na verdade, todos sabiam que o C. não iria usar de forma positiva esta oportunidade, não ia aprender uma profissão que lhe garantisse um futuro, o que ia ocorrer (e ocorreu) era que ele ia aproveitar ao máximo essa nova liberdade e espaço alargado de manobra.

A questão que permanece é essa: Deixámos cair o C. em nome da salvação de outros (escolar e outra)?

Remoo esta situação porque considero que é dever da escola incluir e não deixar ninguém para trás. Acredito nisso e sei que se nós, na escola, desistimos de um jovem, ele provavelmente não terá mais ninguém que se ocupe de dele e lhe dê os bons exemplos que são fundamentais ao seu equilíbrio e saudável crescimento. Era o caso.

Pois, mas restam os outros, que querem trabalhar, estar atentos e a quem nós, comunidade educativa, temos que garantir as melhores condições de aprendizagem, e proteger dos exemplos negativos (ficou a dúvida se o C. não introduziu  algum tipo de drogas na escola antes da sua transferência...).

Sei isso tudo, mas a dúvida permanece.

E um pequeno sentimento de culpa, também.

 



publicado por Marta M às 17:06
Sábado, 13 de Fevereiro de 2010

Hoje, para desanuviar e para "colorir" este blog que anda muito rezingão, e partindo do convite/desafio da minha conterrânea e amiga Sheila, venho falar de cinco manias minhas (só cinco?).

Segundo a regra e citando a minha amiga: "Tenho que enunciar 5 manias minhas, hábitos muito pessoais. E além de dar ao público conhecimento destas particularidades, tenho que escolher 5 bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo. Cada participante deve produzir este regulamento no seu blogue..".

Agora é a parte mais difícil - aquela em que mais me exponho e...me confesso ;) 

Mania 1: Ler.

Faço-o todos os dias e a todas as horas que consigo. É um vício, uma mania?

Não sei. O que garanto é que tal actividade é essencial para mim e consegue relaxar-me por pior que tenha sido o dia.

Mesmo que tenha tido um dia fisicamente esgotante, não posso deixar de dedicar uns minutos à leitura do jornal diário (compro pelo menos um por dia) e, se conseguir, procuro ainda ler um capítulo de algum dos 2 ou 3 livros que ando sempre a ler em simultâneo...

Relaxa-me, cultiva-me e ajuda a treinar a cabeça, apurar o raciocínio e assim ter "elasticidade" mental e os conhecimentos  que me ajudem a enfrentar os dias pelo melhor ângulo.

Haverá mania mais saudável? Duvido.

Mania 2:  Detesto comida remexida.

Se há algo que me incomoda deveras e consegue dissipar o meu apetite é mexerem no meu prato ou pessoas que reviram excessivamente a comida nas travesssas quando se servem.  

Provavelemente, tendo em conta que sempre tive muito pouco apetite e que o ambiente ou a importância que atribuo ao contexto onde ocorre a refeição é mais importante que o alimento em si, sempre fui atenta a detalhes que muitos não valorizam.

Adoro a filosofia e a simplicidade da abordagem oriental às refeições ou à degustação de um simples chá...

Mania 3: Postura desleixada.

Principalmente que se atirem com estrondo num sofá onde estou sentada (relaxada ou não), ou baterem portas e gavetas.

Mania 4: Gosto de servir os pratos à mesa.

E faço-o quase todos os dias aqui em casa, prefiro que estejam todos sentados à mesa e eu possa movimentar-me na cozinha. Penso que esta mania vem do tempo em que os meus filhos eram pequenos e eu, sozinha na cozinha,tinha que lidar com as panelas a ferver e tinha (tenho)  pavor de as deixar cair e queimar alguém.

E assim também garanto que os meus filhos consomem refeições equilibradas (verduras incluídas!)

Eu sei que já são adultos, mas o hábito e a preocupação permanecem ;)

Mania 5: Luz de Presença

Desde pequena, que tenho horror a dormir na completa escuridão (Se fui trancada na despensa às escuras? Sim, infelizmente).

Se a luz de presença se apagar, ou se faltar a luz, acordo sempre.

Reflexão final:

Estas pequenas manias que todos vamos tendo em maior ou menor quantidade (e aqui pode surgir o problema), penso que são pequenas compensações/seguranças que vamos precisando de ter e assim assumir algum controlo num mundo caótico e em que pouco ou nada se consegue prever ou controlar verdadeiramente.

Deixam-nos acreditar que ainda controlamos um pouco algumas coisas...

Excessiva ilusão?

Lanço o desafio aos seguintes amigos:

Teresa 

Nucha

cuidando de mim

Marcolino

Loira

Raio de Luar

Onix

Isa

Cantinho da Manu

Existiriam outros, mas já foram desafiados!

Bom Domingo a todos!



publicado por Marta M às 19:38
Sábado, 06 de Fevereiro de 2010

 

  

Este pequeno excerto do filme O Padrinho II (The Goodfather) , causou em mim, logo quando o vi há  uma dezena de anos, uma enorme sensação de empatia com a personagem. E que ficou desde essa altura a ressoar em mim...

Sei exactamente como esta personagem se sentiu.

Ser arrastada para uma situação que nos causa até uma certa repulsa (e da qual nos tentámos afastar com todas as nossas forças) é, para os que já se viram nessa situação, algo que nos faz mal durante muito tempo.

Às vezes porque se é próximo ou familiar, usa-se essa circunstância involuntária, para arrastar  outros para situações com as quais nada se tem a ver ou em nada se parecem com a forma como cada um quer viver a sua vida...

Toma-se posse da vida dos outros e do seu espaço de manobra, usando essa ligação para manipular ou para se usar os outros sem pudor, quando esse laço (?) deveria significar apoio, carinho, solidariedade e obviamente respeito por cada um e pelo seu espaço privado.

E coarcta-nos a liberdade de viver a nossa vida, legitimamente, à nossa maneira.

Arrastados que somos, sem grandes alternativas, restam-nos usar de atitudes pouco simpáticas, às vezes duras de concretizar, mas que somos obrigados a enfrentar para não ficarmos mal connosco mesmos.

Valham-nos os poetas que, como sempre, o explicam bem melhor do que eu...

 

A história da moral
 
Você tem-me cavalgado
seu safado!
Você tem-me cavalgado,
mas nem por isso me pôs
a pensar como você.
 
Que uma coisa pensa o cavalo;
outra quem está a montá-lo

 

Alexandre O´Neill



publicado por Marta M às 17:52
Vejo o mundo, somo o que me acontece, vejo os outros, as minhas circunstâncias....Escolho caminhos e vou tentando ver o "lugar" dos outros
Afinal quem penso que sou..
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Aviso:
As imagens que ilustram alguns posts resultam de pesquisas no google, se existir algum direito sobre elas, por favor,faça-me saber. Obrigada.
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