Sexta-feira, 23 de Julho de 2010

A Patrícia  foi minha aluna há dois anos, no 11º ano, e tem hoje 17 anos.

Descrevendo-a assim, parece uma jovem como tantas outras que passam pelas minha mãos em cada ano.

Mas não é.

E não é por muitas e diferentes razões: pela coragem, pelo espírito inquieto, empreendedor e particularmente auto-didacta que revela e pratica.

A Patrícia lê, aprende, escreve e fala sempre de forma sincera procurando melhorar-se e avançar na vida. E eu vejo isso.

A Patrícia não é de sorriso fácil (terá as suas razões) nem de muitos entusiasmos, na verdade tem uma postura e um olhar perscrutor, sedento de aprendizagem e uma atitude invariavelmente atenta.

A Patrícia é quase demasiado madura para a idade e carrega um peso enorme para a sua ainda curta vida...E tem razões para isso, a vida não lhe foi fácil,  pelo contrário tocou-lhe viver circunstâncias familiares  difíceis e que são mais um lastro do que uma boa base para iniciar a vida ...

Mas ela não desanimou, e da dificuldade vai sabendo fazer uma oportunidade e nas contrariedades encontra desafios que  vai superando...E consegue nesse exercício mostrar como alguém tão novo possui uma sabedoria que muitos não conseguem acumular apesar das múltiplas lições e oportunidades quer recebem na vida.

E ninguém  a ensinou a ser como é.

Neste mês, tal como havia combinado com as minhas alunas fui assistir à suas defesas de estágio e apresentações finais (Prova de Aptidão Pedagógica - PAP), à Patrícia especialmente prometera não faltar.

Lá estava ela ao fundo do corredor a  correr para mim com os braços estendidos e o sorriso aberto, mas nervoso. E estava mesmo intranquila e a sua pele não o negava, salpicada que estava de manchas vermelhas e coberta de suores frios.  Todas as professoras e amigas tentámos que se acalmasse. Em vão.

A responsabilidade era demasiado alta.

Tal como prometido mantive-me muito próxima e atenta e ela começou a falar...Apesar do tom hesitante, foi desenvolvendo a sua apresentação e a respirar ora fundo, ora ofegantemente, entre frase e slides...Até que a sua voz sumiu e o silêncio instalou-se.

Percebeu-se que a voz da Patrícia embargara, travara, e a sua cor mudara.

Em segundos caiu desamparada no chão de madeira e um tremendo susto toma conta de todos.

Por estar mais perto cheguei antes e virei-a de lado, a sua directora de turma em segundos estava ao nosso lado e abria janelas procurando que a Patrícia desse sinais de si.

Ela voltou, pálida e um pouco desorientada, mas com os seus grandes olhos abertos e, se bem a conheço, já procurar a forma de reverter aquela partida que o seu organismo lhe pregara. E nunca com pena de si mesma, porque a Patrícia tem um sentido de lutadora, não de vítima.

Algumas professoras e próprio júri propuseram que ela desse por terminada a apresentação, pelas circunstâncias e porque já demosntrara que dominava o tema.

Em silêncio procurei os seus olhos (em tempos de crise, e sendo desnecessário,gosto de observar mais e falar menos...) e percebendo a situação e o seu sentir, perguntei-lhe o que queria fazer, ela entendeu e respondeu:

- "Quero continuar, claro, setora, já sabe."

Claro que eu sabia, a Patrícia nunca se iria perdoar se desistisse a meio, fossem quais fossem as circunstâncias. Por isso nunca lhe propus terminar antes do tempo.

Ela leva qualquer desafio até ao fim e com dignidade.

Eu conheço a força daquela alma.

A apresentação ganhou ritmo lentamente para terminar com a sua voz forte e consistente e o seu sorriso de alívio e orgulho.

Todos os presentes na sala reconheceram  a sua atitude e a sua força, era impossível não o fazer.

Ainda bem que as novas gerações mostram esta força e esta determinação e nem todos estão acomodados.

Menos ainda os que têm mesmo que lutar a dobrar.

Deus abençoe e conserve essa força da Patrícia ;)

É um gosto ter sido tua professora e agora tua amiga.

Estou atenta.

 



publicado por Marta M às 16:21
Olá amiga :)

Esperava que eu gostasse?
O post está Perfeito que mais poderia eu dizer? Só lhe tenho a dizer que fiquei completamente sem palavras e sem saber que lhe responder, daí a demora ;)

Sei que me conhece demasiado bem, conhece os meus estados de espírito, conhece mais que bem a minha escrita mas, principalmente conhece e sabe a força que me move e moveu para ter chegado onde cheguei, tem a capacidade de me olhar nos olhos e 'ver' o que penso, já aconteceu isso por mais de uma vez, fala do que me vai na cabeça e responde ao meu pensamento sem eu nem sequer ter falado em nada.

Desistir? Jamais farei disso um acto, será sempre uma palavra da qual não tenciono fazer uso. No entanto, sempre que sair de alguma situação a 'perder' vou levantar a cabeça e tentar de novo, sei bem que o mais importante é nunca desistir, e isso depende inteiramente de mim. Prefiro ter a capacidade de voltar a tentar de novo de modo a conseguir alcançar o que quero do que simplesmente resignar-me a baixar a cabeça, cruzar os braços e lamentar pelos cantos a 'má sorte' da vida.

Obrigada, um enorme OBRIGADA do Coração por tudo e tanto que me deu, transmitiu, ensinou e sobretudo pelo tempo que dispensou e puxou por mim, há dois anos. Quem realmente era estava ‘escondido’, bastou ter puxado um bocadinho por mim, para revelar ao 'Mundo', quem e como era verdadeiramente. Tinha tudo a nível do Ser ('' a coragem, o espírito inquieto, o sentido de lutadora, a força da alma,'' etc.) quanto tenho agora neste momento mas, só faltava demonstrá-lo e você lutou por isso, sem nunca DESISTIR.
Eu tinha as raízes mas faltava deixá-las crescer, você mudou-lhes o vaso para crescerem livremente e acho que já lhes começou a ver os frutos :)

Nunca existirão palavras ou gestos que agradeçam tudo o quanto fez por mim, principalmente esta última parte ;)
Fica a saber que tenho um enorme Orgulho em tê-la como amiga, que Deus a conserve sempre como até aqui e também do meu lado :)

Prometo não desiludir !!
Beijinhos Grandes
Patrícia Mateus a 25 de Julho de 2010 às 01:46

Querida Patrícia:
Claro que não me vais desiludir e claro que nunca deixarei de puxar por ti, ou melhor "exigir"de ti como sempre fiz, não é? Bem te deves lembrar que te disse demasiados vezes que alguns de nós nascem com maiores responsabilidades e têm que as assumir.
Faz parte de ser uma espécie de "milagre" em certas famílias...
Lembras-te destas palavras entre as muitas que trocámos pelos corredores da escola? Sei que as tens inscritas no coração e actuas em conformidade e issoépara mim (e para os teus, tenho a certeza) motivo de orgulho.
Limitei-me a criar as condições para que a semente promissora que és tivesse oportunidade de lançar raízes e crescer, crescer...
Porque outros precisam de ti e do teu exemplo...
Quem sabe até onde?
Também eu aprendi muito contigo e considero isso um privilégio. Abraço de coração e até qualquer hora.
;)
Marta M
Marta M a 31 de Julho de 2010 às 17:50

Vejo o mundo, somo o que me acontece, vejo os outros, as minhas circunstâncias....Escolho caminhos e vou tentando ver o "lugar" dos outros
Afinal quem penso que sou..
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As imagens que ilustram alguns posts resultam de pesquisas no google, se existir algum direito sobre elas, por favor,faça-me saber. Obrigada.
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