Acreditava que "aquilo que não nos destrói torna-nos mais fortes". "Disse-o quando acompanhou o ex-Presidente Jorge Sampaio na visita à cela do Forte de Peniche onde Álvaro Cunhal esteve preso. Mostrou-o ao longo da sua vida na luta contra o regime do Estado Novo, primeiro como militante do PCP e depois do MRPP, em que foi preso e torturado. Continuou a mostrá-lo, durante o resto da sua vida, quando deixou de acreditar na eficácia da militância política e se tornou num empenhado professor de Direito e num conhecido fiscalista. Atento e sempre crítico à actualidade. "
E honesto, e coerente e leal aos seus valores, até ao último dia.
Atitude difícil e rara, como se sabe.
A notícia chegou-me ontem, e fiquei triste com ela. Não o conheci, mas sempre admirei a sua coragem e a sua verticalidade.
Com Maria José Morgado, formavam um casal que há muito admiro e respeito.
São ambas figuras de referência, daquelas que pertencem a um grupo cada vez menor e que sempre que um membro se perde, fica-se mais pobre porque não há muitos para continuar a segurar no testemunho.
" E em vez da liberdade, defendia a justiça", lembra-nos Paula T. de Carvalho, no Jornal Público hoje.
Claro, havendo justiça para todos e em todas as dimensões da sociedade , a liberdade é a consequência lógica que decorre.
Se a palavra incorruptível se pode aplicar a alguém, penso que este casal a merece em exequo. Nunca os escutei defender nenhum ponto de vista que para mim não fosse respeitável e ... Limpo.
É a palavra que me ocorre.
E ocorre-me outra, "exigente", primeiro com ele e depois com todos os outros... Com a sociedade em geral e com os políticos em particular, porque sabia que a solução sempre passaria também por eles. Gostemos ou não dessa fatalidade.
Responsabilizando-os e dizendo que devia ser dito, mesmo quando foi mandatário de António Costa para a CML e não se coibia de dizer o que pensava em cada momento, de acordo com a sua consciência.
O seu ar desperto a arguto sempre prendia a minha atenção nos Telejornais aonde ia com frequência, por convite, dar um contributo cívico e técnico, e sobretudo procurando sempre estar do lado da solução, propondo medidas concretas para além do diagnóstico habitual.
O país que o viu nascer inquietava-o e, mesmo quando o tratou mal, antes e depois do 25 de Abril ( não faz muito tempo foi muito injustiçado pelos seus pares da Faculdade de Direito) nunca veio a público lançar lama às instituições, desacreditando-as e assim empobrecendo todo o país, com dignidade distinguia bem quem eram os responsáveis e seguia a sua luta.
Teve uma vida com sentido e isso não tem preço...
Que falta fazem a este país estes bons exemplos.
Bem-haja por pessoas assim.